Gestação por substituição no Brasil 2025: lei, riscos, exterior e alternativas seguras

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Zappelphilipp Marx
Pessoa grávida segura uma imagem de ultrassom com as duas mãos

Para algumas pessoas, a gestação por substituição (GS) surge como “última via” rumo à parentalidade. No Brasil, há regras éticas e deontológicas específicas e o caminho é estritamente não comercial, com exigências formais para proteger a gestante, o bebê e os(as) pretendentes. Este guia explica os modelos, a moldura jurídica brasileira, os riscos clínicos, um panorama de custos internacionais e os pontos críticos quando o parto ocorre fora do país. Encerramos com alternativas seguras focadas em direitos da criança, transparência e documentação adequada.

O que é gestação por substituição

É a situação em que uma mulher (cedente temporária do útero) leva a termo uma gestação para outra pessoa ou casal (pais/mães intencionais) e, após o parto, o recém-nascido é entregue aos(às) pretendentes. Dependendo do modelo, a gestante pode ter ou não vínculo genético com o bebê. Por envolver domínios médico, jurídico e ético, é indispensável aconselhamento independente (médico, psicológico e jurídico) antes de qualquer decisão.

Modelos: tradicional x gestacional

Tradicional (ou parcial): a cedente utiliza seus próprios óvulos e, portanto, é geneticamente mãe. O potencial de conflito emocional e a complexidade jurídica são maiores; diversos ordenamentos desaconselham ou proíbem este modelo.

Gestacional (ou completa): os embriões são formados com gametas das pessoas intencionais ou de doadores(as) e transferidos para o útero da cedente, que não tem vínculo genético com o bebê. Onde a GS é regulada, este é o formato mais comum.

Enquadramento legal no Brasil

No Brasil, não há lei federal específica que regule todos os aspetos da reprodução assistida. A prática médica segue a Resolução CFM nº 2.320/2022, que estabelece requisitos claros para a GS (texto integral – CFM). Entre os pontos centrais:

  • A GS é não comercial: é vedado caráter lucrativo e a clínica não pode intermediar a escolha da cedente.
  • A cedente deve ter ao menos um filho vivo e, em regra, ser parente consanguínea até 4º grau de uma das pessoas intencionais; se isso não for possível, cabe solicitar autorização ao CRM da jurisdição.
  • Consentimento livre e esclarecido, relatório médico de aptidão física e mental de todas as partes e termo de compromisso sobre a filiação devem constar do prontuário.
  • Limites ao número de embriões transferidos e proibição de redução embrionária permanecem vigentes.

Quanto ao registro civil, o Conselho Nacional de Justiça disciplina o assento de nascimento de crianças geradas por reprodução assistida no Provimento nº 63/2017, com atualizações pelo Provimento nº 83/2019 (paternidade/maternidade socioafetiva). O Provimento 63 prevê, por exemplo, que o cartório não pode exigir a identificação do(a) doador(a) para lavrar o registro (CNJ – Prov. 63; CNJ – Prov. 83). Em linha com isso, a Corregedoria do STJ também reconheceu o dever de registrar filhos(as) havidos por técnicas de reprodução assistida (notícia STJ).

Documentação e retorno quando o parto ocorre no exterior

Se o parto ocorrer fora do Brasil, planeje antes de viajar: regras locais (incluindo pre-/post-birth orders), emissão da certidão de nascimento, definição de filiação, documentos de viagem e nacionalidade do bebê, além da transcrição/registro no Brasil conforme o Prov. 63 do CNJ. Sem base jurídica sólida e documentos corretos, passaporte e retorno podem sofrer atrasos significativos. Como guia neutro de referência internacional, consulte também o material do governo britânico (em inglês): GOV.UK – Surrogacy overseas.

Aspectos médicos e riscos

A GS costuma basear-se em FIV. Entre os riscos descritos em literatura e guias clínicos estão: efeitos adversos da estimulação hormonal (p. ex., OHSS), maior chance de complicações em gestações múltiplas (prematuridade, pré-eclâmpsia), intercorrências obstétricas e sobrecarga psicossocial para a cedente e para os(as) pretendentes. É essencial avaliação independente, apoio psicológico e política cautelosa de número de embriões transferidos. Para leitura acessível ao público, ver a página da autoridade britânica HFEA – Surrogacy.

Faixas de custos por país (referencial)

Os custos totais variam com país, modelo (altruísta = reembolso de despesas comprovadas; comercial = compensação), número de ciclos de FIV, atos judiciais, seguros e viagem/estadia. Internacionalmente, falam-se em intervalos do meio cinco dígitos ao seis dígitos (USD/EUR). A tabela abaixo é indicativa (não é recomendação) e pode mudar conforme atualização normativa e contexto local.

País/regiãoSituação legal (resumo)Modelo de pagamentosFaixa total estimada*
BrasilPermitida em moldes não comerciais pela Res. CFM 2.320/2022; parentesco até 4º grau ou exceção via CRM; clínica não intermedeia a cedenteReembolso de despesas (sem lucro)variável (caso a caso)
Reino UnidoAltruísta; Parental Order após o partoReembolso documentadomeio 5 dígitos
CanadáAltruísta (federal); compensação proibidaReembolso reguladomeio 5 dígitos
Estados UnidosVariação estadual; comercial em muitos estadosCompensação + clínica/agência/jurídicoalto 5 dígitos–6 dígitos
GréciaAutorização judicial; reguladoCompensação permitidaalto 5 dígitos
GeórgiaRegras em evoluçãoPossível compensaçãomeio 5 dígitos
UcrâniaHistoricamente comercial; cenário volátilCompensação usualalto 4–meio 5 dígitos
MéxicoDifere por estadoCompensação em alguns estadosampla variação
África do SulNecessita pre-birth orderAltruísta (despesas)meio 5 dígitos
Austrália / Nova ZelândiaPor estado/território; comercial proibidoReembolsobaixo–meio 5 dígitos
França / Espanha / Itália / PortugalRegra geral: proibido ou muito restrito; reconhecimento de casos externos é complexo
Países Baixos / Bélgica / DinamarcaAltamente restritoReembolso (quando aplicável)baixo–meio 5 dígitos
Polônia / TchéquiaZonas cinzentas; prática não uniformeDependente do casoampla variação
IsraelRegulada; aprovação por comissãoCompensação/despesasalto 5 dígitos

*Valores referenciais influenciados por local, número de ciclos, seguros, via judicial e duração da estadia. Leituras oficiais/neutras: Res. CFM 2.320/2022; CNJ – Prov. 63/2017; CNJ – Prov. 83/2019; HFEA.

Exterior: modelos e tendências

Em linhas gerais, os países se distribuem em três modelos: proibição, altruísta (somente reembolso de despesas) e comercial (compensação). Independentemente do destino, são cruciais: contrato transparente e supervisionado, comprovação de padrões clínicos, rota clara para filiação e nacionalidade do bebê, e organização prévia dos documentos de viagem. Mudanças regulatórias são frequentes; valide sempre informações em fontes oficiais atualizadas do país de destino.

Alternativas para formar família

  • Adoção / acolhimento familiar: vias públicas com proteção reforçada à criança e acompanhamento técnico.
  • Doação de sêmen: para muitas famílias é um caminho mais previsível clínica e juridicamente do que a GS. No Brasil, integra a reprodução assistida regulada pelo CFM, com ênfase em consentimento, exames e documentação.
  • Outras técnicas de RA (IIU/FIV/ICSI): indicadas conforme avaliação médica; busque aconselhamento jurídico independente antes de decidir.

Aviso importante e alternativa com a RattleStork

A RattleStork não oferece gestação por substituição e não é uma plataforma de intermediação, organização ou execução de GS. Distanciamo-nos expressamente desse tipo de serviço.

Como alternativa, ajudamos pessoas no Brasil a iniciar de forma informada e segura a doação de sêmen — com perfis verificados, guias práticos e referências a serviços de aconselhamento confiáveis — mantendo no centro a segurança clínica, a documentação e os direitos da criança.

Aplicativo RattleStork aberto em um smartphone mostrando um perfil de doador de sêmen
RattleStork: alternativa responsável — doação de sêmen com informação clara e foco na criança.

Conclusão

No Brasil, a GS é possível apenas em moldes não comerciais, com parentesco preferencial até 4º grau (ou autorização do CRM) e forte exigência documental. Em trajetórias no exterior, a diversidade regulatória impõe planejamento jurídico minucioso para evitar entraves em filiação, nacionalidade e retorno. Considere rotas de menor risco — como doação de sêmen ou adoção — e busque desde o início aconselhamento médico e jurídico independentes.

Aviso legal: O conteúdo da RattleStork é fornecido apenas para fins informativos e educacionais gerais. Não constitui aconselhamento médico, jurídico ou profissional; nenhum resultado específico é garantido. O uso destas informações é por sua conta e risco. Consulte o nosso aviso legal completo.

Frequently Asked Questions (FAQ)

Há regras deontológicas médicas (CFM 2.320/2022) que permitem GS em moldes não comerciais, com requisitos específicos e supervisão profissional.

Não. A cessão temporária do útero não pode ter caráter lucrativo ou comercial; admite-se apenas reembolso de despesas, nos termos clínicos e éticos vigentes.

Regra geral, sim: até 4º grau de consanguinidade de um(a) dos(as) pretendentes; se não for possível, é necessária autorização do CRM da jurisdição.

Não. As clínicas não podem intermediar a escolha da cedente; o processo é não comercial e exige documentação e consentimento específicos.

O CNJ (Prov. 63/2017) disciplina o registro de crianças oriundas de reprodução assistida; o cartório não pode exigir identificação de doadores para registrar.

Filiação e nacionalidade não são automáticas; é preciso planejar certidões, eventuais decisões judiciais e documentos de viagem antes do nascimento.

Efeitos da estimulação hormonal (incluindo OHSS), riscos aumentados em gestações múltiplas, complicações obstétricas e impacto psicossocial relevante.

Comumente 12–24 meses entre triagem, passos legais, tratamento, gestação e formalidades pós-parto, variando bastante conforme o país e o caso.

Muitos contratos excluem GS ou exigem condições específicas; confirme por escrito a cobertura para a cedente e o(a) recém-nascido(a), quando aplicável.

Não. A RattleStork não oferece, não intermedeia e não organiza GS; indicamos alternativas com menor risco, como a doação de sêmen com documentação robusta.

Doação de sêmen com consentimento informado e rastreabilidade, ou adoção/acolhimento; busque orientação médica e jurídica independentes logo no início.