Para casais e pessoas que não conseguem ter filhos por concepção natural ou outros métodos de reprodução assistida, a barriga de aluguel pode parecer a última alternativa. No Brasil, no entanto, a prática só é permitida de forma altruísta, sem remuneração, e regulamentada pela Resolução CFM nº 2.144/2016. Este artigo explica os tipos de barriga de aluguel, apresenta o marco legal brasileiro, compara alternativas internacionais, analisa custos e riscos médicos e explora outros caminhos para formar família.
O que é barriga de aluguel?
Barriga de aluguel (ou gestação por substituição) é o acordo em que uma mulher (“gestante”) leva a gravidez até o fim e dá à luz em nome de pais de intenção, transferindo depois a guarda legal à família contratante.
Gestação tradicional vs. gestacional
Tradicional: o óvulo da própria gestante é fertilizado pelo esperma do pai de intenção ou de doador, criando vínculo genético e complexidade jurídica.
Gestacional: embriões formados em laboratório a partir de óvulos da mãe de intenção (ou de doadora) e esperma do pai de intenção são transferidos para o útero da gestante. Não há vínculo genético entre gestante e bebê, simplificando acordos.
Agências e clínicas de suporte
Embora o Brasil exija caráter altruísta, clínicas de reprodução assistida certificadas pelo CFM oferecem:
- Seleção e avaliação de gestantes (médica e psicológica)
- Procedimentos de Fertilização In Vitro (FIV) e monitoramento
- Assistência jurídica para termo de consentimento e registro civil
- Apoio psicológico e mediação de conflitos
Fornecedores seguem diretrizes do Conselho Federal de Medicina e mantêm total transparência sobre processos e riscos.
Marco legal no Brasil
A Resolução CFM nº 2.144/2016 permite apenas gestação altruísta, com ressarcimento de despesas comprovadas (transporte, exames, eventuais perdas salariais). É vedado qualquer pagamento além destes valores. A Constituição Federal e o Código Civil reconhecem a mãe como quem gera o filho, mas, após nascimento, os pais de intenção devem registrar a criança em cartório mediante declaração judicial ou termo de consentimento.
Contratos de compensação financeira direta são inválidos e podem configurar crime de tráfico de pessoas (Lei nº 13.344/2016). O objetivo é evitar exploração e proteger direitos de gestantes e crianças.
Custos e financiamento
Mesmo sem remuneração à gestante, trocas de país implicam:
- FIV e medicamentos: R$ 40.000–R$ 70.000
- Exames complementares e internação
- Despesas de viagem e hospedagem (se feito no exterior)
- Honoraristas de advogados para registros e declarações jurídicas
No Brasil, a gestação altruísta em clínica local custa em torno de R$ 50.000–R$ 80.000 para cobrir FIV e exames, sem incluir passagens e estadia. Financiamentos pessoais e linhas de crédito médica podem ajudar no planejamento.
Aspectos médicos e riscos
A gestação por substituição emprega Fertilização In Vitro (FIV), com transferência de embriões para o útero da gestante (Moragianni et al. 2021; Zhang et al. 2020).
Riscos potenciais:
- Síndrome de Hiperestimulação Ovárica (SHO), até 5% dos ciclos de FIV ( Patient.info SHO).
- Efeitos colaterais hormonais: alterações de humor, náuseas e inchaço ( MedlinePlus 2023).
- Aumento de risco de múltiplos (gêmeos, trigêmeos), com maiores taxas de prematuridade e pré-eclâmpsia ( OMS 2021).
- Estresse psicológico: tratamentos hormonais e pressão social ( Burgio et al. 2022).
Acompanhamento médico rigoroso — ultrassonografias regulares, exames laboratoriais e consultas de especialidade — é fundamental para identificar e tratar complicações precocemente.
Críticas e debate ético
Alguns argumentam que, mesmo altruísta, a prática pode levar a pressões indiretas sobre mulheres de renda mais baixa. Questiona-se também o impacto emocional sobre a gestante e a criança.
Defensores afirmam que, com triagem criteriosa, ressarcimento justo e contratos transparentes, a gestação por substituição pode ser um caminho ético e solidário para quem sonha com a paternidade/maternidade.
Alternativas internacionais
Alguns brasileiros viajam para países com regulamentação clara ou custos competitivos:
- Estados Unidos: leis estaduais; comercial em estados como CA e IL.
- Canadá: apenas altruísta, reembolso de despesas.
- Reino Unido: altruísta permitido, pagamentos comerciais proibidos.
- Grécia: comercial sob contrato regulamentado.
- Ucrânia: comercial disponível; riscos políticos.
- Rússia: altruísta e comercial permitida; zonas cinzentas.
- México: variação estadual; algumas regiões permitem compensação.
- Austrália: comercial proibida; altruísta em alguns estados.
- Brasil: somente altruísta, via CFM.
Outros caminhos para formar família
Opções alternativas incluem:
- Adoção: processo legal para integrar a criança permanentemente.
- Foster care: acolhimento temporário ou de longo prazo.
- Doação de esperma ou óvulos: regulada pela ANVISA; triagem de doadores e receptoras.
Doação de esperma como alternativa: RattleStork
Muitos brasileiros hoje optam por doação de esperma em vez de gestação por substituição. Em plataformas como RattleStork, usuários criam conta gratuita e escolhem entre doadores certificados.

Conclusão
A barriga de aluguel no Brasil só é permitida de modo altruísta, sem remuneração, seguindo Resolução CFM 2.144/2016. Seja optando pela via nacional, viajando ao exterior ou explorando alternativas como adoção ou doação de gametas, é essencial contar com assessoria jurídica especializada, planejamento financeiro realista e acompanhamento médico completo para o sucesso na jornada rumo à parentalidade.