Para algumas pessoas, a gestação por substituição (GS) surge como “última via” rumo à parentalidade. No Brasil, há regras éticas e deontológicas específicas e o caminho é estritamente não comercial, com exigências formais para proteger a gestante, o bebê e os(as) pretendentes. Este guia explica os modelos, a moldura jurídica brasileira, os riscos clínicos, um panorama de custos internacionais e os pontos críticos quando o parto ocorre fora do país. Encerramos com alternativas seguras focadas em direitos da criança, transparência e documentação adequada.
O que é gestação por substituição
É a situação em que uma mulher (cedente temporária do útero) leva a termo uma gestação para outra pessoa ou casal (pais/mães intencionais) e, após o parto, o recém-nascido é entregue aos(às) pretendentes. Dependendo do modelo, a gestante pode ter ou não vínculo genético com o bebê. Por envolver domínios médico, jurídico e ético, é indispensável aconselhamento independente (médico, psicológico e jurídico) antes de qualquer decisão.
Modelos: tradicional x gestacional
Tradicional (ou parcial): a cedente utiliza seus próprios óvulos e, portanto, é geneticamente mãe. O potencial de conflito emocional e a complexidade jurídica são maiores; diversos ordenamentos desaconselham ou proíbem este modelo.
Gestacional (ou completa): os embriões são formados com gametas das pessoas intencionais ou de doadores(as) e transferidos para o útero da cedente, que não tem vínculo genético com o bebê. Onde a GS é regulada, este é o formato mais comum.
Enquadramento legal no Brasil
No Brasil, não há lei federal específica que regule todos os aspetos da reprodução assistida. A prática médica segue a Resolução CFM nº 2.320/2022, que estabelece requisitos claros para a GS (texto integral – CFM). Entre os pontos centrais:
- A GS é não comercial: é vedado caráter lucrativo e a clínica não pode intermediar a escolha da cedente.
- A cedente deve ter ao menos um filho vivo e, em regra, ser parente consanguínea até 4º grau de uma das pessoas intencionais; se isso não for possível, cabe solicitar autorização ao CRM da jurisdição.
- Consentimento livre e esclarecido, relatório médico de aptidão física e mental de todas as partes e termo de compromisso sobre a filiação devem constar do prontuário.
- Limites ao número de embriões transferidos e proibição de redução embrionária permanecem vigentes.
Quanto ao registro civil, o Conselho Nacional de Justiça disciplina o assento de nascimento de crianças geradas por reprodução assistida no Provimento nº 63/2017, com atualizações pelo Provimento nº 83/2019 (paternidade/maternidade socioafetiva). O Provimento 63 prevê, por exemplo, que o cartório não pode exigir a identificação do(a) doador(a) para lavrar o registro (CNJ – Prov. 63; CNJ – Prov. 83). Em linha com isso, a Corregedoria do STJ também reconheceu o dever de registrar filhos(as) havidos por técnicas de reprodução assistida (notícia STJ).
Documentação e retorno quando o parto ocorre no exterior
Se o parto ocorrer fora do Brasil, planeje antes de viajar: regras locais (incluindo pre-/post-birth orders), emissão da certidão de nascimento, definição de filiação, documentos de viagem e nacionalidade do bebê, além da transcrição/registro no Brasil conforme o Prov. 63 do CNJ. Sem base jurídica sólida e documentos corretos, passaporte e retorno podem sofrer atrasos significativos. Como guia neutro de referência internacional, consulte também o material do governo britânico (em inglês): GOV.UK – Surrogacy overseas.
Aspectos médicos e riscos
A GS costuma basear-se em FIV. Entre os riscos descritos em literatura e guias clínicos estão: efeitos adversos da estimulação hormonal (p. ex., OHSS), maior chance de complicações em gestações múltiplas (prematuridade, pré-eclâmpsia), intercorrências obstétricas e sobrecarga psicossocial para a cedente e para os(as) pretendentes. É essencial avaliação independente, apoio psicológico e política cautelosa de número de embriões transferidos. Para leitura acessível ao público, ver a página da autoridade britânica HFEA – Surrogacy.
Faixas de custos por país (referencial)
Os custos totais variam com país, modelo (altruísta = reembolso de despesas comprovadas; comercial = compensação), número de ciclos de FIV, atos judiciais, seguros e viagem/estadia. Internacionalmente, falam-se em intervalos do meio cinco dígitos ao seis dígitos (USD/EUR). A tabela abaixo é indicativa (não é recomendação) e pode mudar conforme atualização normativa e contexto local.
| País/região | Situação legal (resumo) | Modelo de pagamentos | Faixa total estimada* |
|---|---|---|---|
| Brasil | Permitida em moldes não comerciais pela Res. CFM 2.320/2022; parentesco até 4º grau ou exceção via CRM; clínica não intermedeia a cedente | Reembolso de despesas (sem lucro) | variável (caso a caso) |
| Reino Unido | Altruísta; Parental Order após o parto | Reembolso documentado | meio 5 dígitos |
| Canadá | Altruísta (federal); compensação proibida | Reembolso regulado | meio 5 dígitos |
| Estados Unidos | Variação estadual; comercial em muitos estados | Compensação + clínica/agência/jurídico | alto 5 dígitos–6 dígitos |
| Grécia | Autorização judicial; regulado | Compensação permitida | alto 5 dígitos |
| Geórgia | Regras em evolução | Possível compensação | meio 5 dígitos |
| Ucrânia | Historicamente comercial; cenário volátil | Compensação usual | alto 4–meio 5 dígitos |
| México | Difere por estado | Compensação em alguns estados | ampla variação |
| África do Sul | Necessita pre-birth order | Altruísta (despesas) | meio 5 dígitos |
| Austrália / Nova Zelândia | Por estado/território; comercial proibido | Reembolso | baixo–meio 5 dígitos |
| França / Espanha / Itália / Portugal | Regra geral: proibido ou muito restrito; reconhecimento de casos externos é complexo | — | — |
| Países Baixos / Bélgica / Dinamarca | Altamente restrito | Reembolso (quando aplicável) | baixo–meio 5 dígitos |
| Polônia / Tchéquia | Zonas cinzentas; prática não uniforme | Dependente do caso | ampla variação |
| Israel | Regulada; aprovação por comissão | Compensação/despesas | alto 5 dígitos |
*Valores referenciais influenciados por local, número de ciclos, seguros, via judicial e duração da estadia. Leituras oficiais/neutras: Res. CFM 2.320/2022; CNJ – Prov. 63/2017; CNJ – Prov. 83/2019; HFEA.
Exterior: modelos e tendências
Em linhas gerais, os países se distribuem em três modelos: proibição, altruísta (somente reembolso de despesas) e comercial (compensação). Independentemente do destino, são cruciais: contrato transparente e supervisionado, comprovação de padrões clínicos, rota clara para filiação e nacionalidade do bebê, e organização prévia dos documentos de viagem. Mudanças regulatórias são frequentes; valide sempre informações em fontes oficiais atualizadas do país de destino.
Alternativas para formar família
- Adoção / acolhimento familiar: vias públicas com proteção reforçada à criança e acompanhamento técnico.
- Doação de sêmen: para muitas famílias é um caminho mais previsível clínica e juridicamente do que a GS. No Brasil, integra a reprodução assistida regulada pelo CFM, com ênfase em consentimento, exames e documentação.
- Outras técnicas de RA (IIU/FIV/ICSI): indicadas conforme avaliação médica; busque aconselhamento jurídico independente antes de decidir.
Aviso importante e alternativa com a RattleStork
A RattleStork não oferece gestação por substituição e não é uma plataforma de intermediação, organização ou execução de GS. Distanciamo-nos expressamente desse tipo de serviço.
Como alternativa, ajudamos pessoas no Brasil a iniciar de forma informada e segura a doação de sêmen — com perfis verificados, guias práticos e referências a serviços de aconselhamento confiáveis — mantendo no centro a segurança clínica, a documentação e os direitos da criança.

Conclusão
No Brasil, a GS é possível apenas em moldes não comerciais, com parentesco preferencial até 4º grau (ou autorização do CRM) e forte exigência documental. Em trajetórias no exterior, a diversidade regulatória impõe planejamento jurídico minucioso para evitar entraves em filiação, nacionalidade e retorno. Considere rotas de menor risco — como doação de sêmen ou adoção — e busque desde o início aconselhamento médico e jurídico independentes.

