A doação de ovócitos é, para muitas pessoas, a via mais realista para ter um filho. No Brasil, o procedimento é permitido e regulado por normas éticas do Conselho Federal de Medicina (CFM). Este guia explica, de forma neutra, o processo, o quadro legal brasileiro, saúde & riscos, taxas de sucesso, custos e documentos — além de pontos éticos e do debate atual. No fim, indicamos alternativas legais e como a RattleStork pode ajudar noutros caminhos.
Como funciona & fundamentos
Doadoras são estimuladas com hormonas; ovócitos maduros são coletados e fecundados em laboratório com sémen (FIV/ICSI). Dependendo da clínica, transferem-se 1–2 embriões e criopreservam-se excedentes. A recetora leva a gestação; geneticamente, a criança tem origem na doadora.
Enquadramento legal no Brasil
No Brasil, a reprodução assistida é regulada por resoluções do CFM. A Resolução CFM nº 2.320/2022 estabelece que a doação é altruísta (sem caráter comercial), com sigilo entre doadores e recetores — salvo quando houver parentesco até 4º grau, desde que sem consanguinidade. Define, ainda, limites etários usuais para doação (mulheres até 37 anos; homens até 45) e proíbe que a cedente temporária do útero seja a doadora dos óvulos/embriões. Como não há lei federal específica aprovada pelo Congresso, o país adota parâmetros técnicos/éticos do CFM para a prática clínica (Senado). A idade máxima usual para candidatas à gestação assistida é 50 anos, com exceções médicas justificadas (AMB).
Filiação
Em regra civil, a maternidade decorre do parto (mater semper certa est); a doadora não é considerada mãe jurídica. O consentimento informado e os registos clínicos estruturam a filiação no contexto da PMA no Brasil.
Saúde & riscos
Doadoras: efeitos da estimulação costumam ser ligeiros. A síndrome de hiperestimulação ovárica (OHSS) é rara e mitigada com protocolos modernos (p.ex., trigger com GnRH, “freeze-all”).
Recetoras: há risco acrescido de doença hipertensiva da gravidez (sobretudo pré-eclâmpsia); são padrão a avaliação prévia, estratificação de risco, eventual AAS profilático e vigilância próxima.
Rastreio de doadoras & matching
Centros sérios avaliam história clínica, idade/AMH, infeções (HIV, HBV/HCV, sífilis), grupo/Rh e, muitas vezes, painéis genéticos. O matching pode ser fenotípico, por grupo sanguíneo ou por preferências clínicas. Na UE, o Single European Code assegura rastreabilidade de tecidos e células (Comissão Europeia).
Taxas de sucesso
Registos internacionais reportam, frequentemente, 45–55% de gravidez clínica por transferência com ovócitos doados. Varia conforme idade/saúde da doadora, qualidade laboratorial/embrionária, número de transferências e fatores uterinos. Ver dados da CDC e relatório ART da ESHRE.
Comparação entre países (2025) – regras, pacotes, preços
Valores indicativos; pacotes, vias legais e prazos variam consoante a clínica.
| País | Modelo de doação | Lei/transparência | Pacote típico | Custos* (sem viagem) | Espera | Nota |
|---|---|---|---|---|---|---|
| Espanha | muito anónima | registo, SEC | FIV/ICSI + 1–2 transferências | € 7.000–11.000 | curta | grande oferta de doadoras |
| Chéquia | muito anónima | depende da clínica | FIV/ICSI + 1 transferência | € 6.000–9.000 | curta | prazos curtos |
| Grécia | maiorit. anónima | regras judic./admin. | FIV/ICSI + criopreservação | € 6.500–10.000 | média | fechar documentos cedo |
| Portugal | aberta | registo estatal; acesso aos 18 | FIV/ICSI + 1–2 transferências | € 7.000–11.000 | média | direito às origens |
| França | aberta | sem anonimato | FIV/ICSI + registo | € 7.000–11.000 | média | alta transparência |
| Bulgária | muito anónima | limites por doadora | FIV/ICSI | € 5.500–8.500 | curta | ver normas locais |
| Geórgia | liberal | normas em mudança | FIV/ICSI + contratos | € 5.000–8.000 | curta | atenção à segurança jurídica |
| Ucrânia | liberal | contexto volátil | FIV/ICSI | € 5.000–8.000 | média | risco político |
| Israel | regulada | autorização necessária | FIV/ICSI + comissão | € 9.000–12.000 | média | requisitos rigorosos |
| EUA | aberta | varia por Estado | FIV/ICSI + testes extensos | ≥ € 15.000 | curta | custos mais altos |
| Canadá | altruísta | proibida remuneração | FIV/ICSI + despesas | € 10.000–14.000 | média | comprovativos necessários |
| Japão | muito anónima | acesso limitado | FIV/ICSI | € 8.000–12.000 | média | prática varia |
*Pacotes não incluem fármacos, viagem/estadia, genética opcional (p.ex., PGT-A), taxas de criopreservação e transferências subsequentes. Na UE, aplica-se a rastreabilidade pelo Single European Code.
Orçar o total com realismo
Para a Europa, um orçamento global de ~€ 12.000–20.000 é plausível. Extras: fármacos, viagem/estadia, add-ons laboratoriais (assisted hatching, time-lapse), PGT-A (opcional), armazenamento criogénico, transferências posteriores e traduções juramentadas. Na América do Norte, o total tende a ser substancialmente maior. As probabilidades acumuladas sobem com múltiplas transferências.
Documentos & retorno após tratamento no exterior
Essenciais: dossiê clínico completo (estimulação, laboratório, embriologia), consentimentos, dados da doadora conforme a lei local (aberta/anónima, registos), relatórios de transferência, exames relevantes, histórico vacinal e traduções juramentadas. Verifica previamente as exigências do país de destino e do Brasil; registos claros agilizam respostas de entidades brasileiras.
Ética & direitos da criança
Centrais: informação sem pressão, proteção da doadora (médica/social), transparência sobre a origem genética e documentação de longo prazo. Vários países migraram do anonimato para modelos abertos com direito de acesso na maioridade. Dar a conhecer as origens pode favorecer a construção da identidade na vida adulta.
Debate regulatório (2025)
O Brasil opera por resoluções do CFM — com atualizações periódicas — enquanto não há lei federal específica. A Res. 2.320/2022 consolidou regras sobre anonimato, parentesco até 4º grau, limites etários e documentação; discussões académicas e jurídicas seguem em curso.
Alternativas legais no Brasil
Doação de sémen: permitida e regulada por resoluções do CFM; prática consolidada em serviços privados, com prontuário e confidencialidade.
Doação de embriões: admitida de forma regulada e confidencial; oferta é limitada e requer acompanhamento médico-legal próximo.
Preservação da fertilidade (social freezing): criopreservação de ovócitos próprios é permitida; qualquer destino a terceiros obedece às normas éticas do CFM.
Nota importante & alternativa com a RattleStork
A RattleStork não oferece nem intermedeia doação de ovócitos. Como alternativa segura e legal, apoiamos o teu arranque na doação de sémen — com perfis verificados, guiões práticos e encaminhamento para serviços credenciados. Foco na segurança clínica, documentação e nos direitos da criança.

Checklist da clínica (curta & prática)
- Legalidade: anonimato/parentesco (até 4º grau), prontuário completo, termos de consentimento.
- Rastreio da doadora: infeções, painéis genéticos, AMH/idade, apoio psicológico.
- Qualidade do laboratório: equipa de embriologia, taxas auditáveis, protocolos de blastocisto/crio.
- Segurança: prevenção de OHSS, redução de múltiplos (single-embryo transfer), prevenção de pré-eclâmpsia.
- Contratos & documentação: consentimentos, traduções, cópias certificadas, dossiê completo.
- Orçamento & logística: fármacos, viagem, transferências subsequentes, extras; cronograma realista.
Quando consultar médica/médico
Sempre antes do tratamento: avaliação de riscos e medicação, comorbidades, riscos da gestação, eventual AAS e plano de vigilância; garante a continuidade de cuidados no Brasil.
Conclusão
No Brasil, a doação de ovócitos é possível e regulada por normas éticas do CFM. Segurança jurídica, qualidade laboratorial, acompanhamento médico rigoroso e orçamento realista ao longo de vários ciclos são determinantes. A maternidade legal decorre do parto; o anonimato entre doadora e recetora é a regra (com exceção de parentesco até 4º grau). Planejamento estruturado e documentação completa aumentam a segurança e as hipóteses de sucesso.
Leitura útil (curada): CFM – atualização das regras • Resolução CFM nº 2.320/2022 • Senado – panorama regulatório • AMB – parâmetros éticos • CDC ART • ESHRE ART Report • Single European Code.

