No Brasil, mais de dez mil pessoas por ano recorrem à doação de sêmen para realizar o sonho de formar família. Os métodos modernos de triagem reduzem significativamente os riscos à saúde, mas um risco residual sempre permanece. Este artigo explica quais vírus, bactérias, parasitas e doenças hereditárias podem ser transmitidos — e como uma triagem laboratorial em múltiplas etapas minimiza esses riscos.
Por que a triagem em múltiplas etapas é essencial
Patógenos costumam passar por um período janela: estão presentes no dador, mas não são detectáveis apenas com testes de anticorpos. Por isso, a ANVISA e a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) recomendam combinar testes sorológicos com PCR e manter as amostras em quarentena por vários meses antes de liberá-las.
Vírus detectáveis no ejaculado
- HIV – teste ELISA e PCR, com quarentena da amostra.
- Hepatites B e C – ensaios de anticorpos e antígenos para prevenir danos ao fígado.
- Herpes simples 1 e 2 – PCR; baixo risco em dadores assintomáticos.
- Citomegalovírus (CMV) – detecção IgG/IgM; crítico para receptores imunocomprometidos.
- Vírus Zika – RT-PCR e testes de anticorpos após viagens a áreas endêmicas.
- HTLV I/II – raro, mas associado à leucemia.
- Papilomavírus humano (HPV) – PCR para tipos de alto risco (prevenção do câncer de colo de útero).
- Vírus do Nilo Ocidental e da Dengue – importante em dadores de regiões tropicais ou subtropicais.
- SARS-CoV-2 – incluído em alguns painéis de triagem durante picos pandêmicos.
Bactérias e parasitas no sêmen
- Chlamydia trachomatis – frequentemente assintomática; pode prejudicar a fertilidade.
- Neisseria gonorrhoeae – detectada por exame NAAT ou cultura.
- Treponema pallidum (sífilis) – sorologia TPPA e VDRL obrigatória.
- Flora urogenital como E. coli e enterococos – pode causar inflamações.
- Trichomonas vaginalis – reduz a qualidade do sêmen.
- Micoplasmas/Ureaplasmas – quase silenciosos, mas inflamatórios.
Riscos genéticos
- Fibrose cística – análise do gene CFTR
- Doença de Tay-Sachs – detecção de mutações em HEXA
- Atrofia muscular espinhal – exame do gene SMN1
- Doenças falciformes e talassemias – painéis de hemoglobinopatias
- Síndrome do X frágil – análise de repetições em FMR1
- Microdeleções no cromossomo Y – ligadas à oligospermia grave
- Doença de Gaucher – relevante em doadores de ascendência Ashkenazi
- Painéis populacionais específicos – ex. anemia de Fanconi, doença de Wilson
Que doenças podem ser excluídas?
Com testes sorológicos, PCR, painéis genéticos e quarentena prolongada, laboratórios podem excluir praticamente todos os vírus, bactérias, parasitas e doenças hereditárias relevantes, levando o risco residual a um nível extremamente baixo.
Processo de triagem
- Anamnese – questionário detalhado e aconselhamento.
- Testes laboratoriais – ensaios de anticorpos, antígenos e PCR.
- Painel genético – detecção de doenças hereditárias comuns.
- Quarentena – amostras congeladas por pelo menos três meses.
- Reteste – confirmar ausência de novas infecções antes da liberação.
Doação privada vs. banco de sêmen
Bancos de sêmen credenciados pela ANVISA garantem máxima segurança com protocolos regulados, quarentena e registros de doadores. Doações privadas podem ser mais acessíveis e pessoais, mas exigem testes sob medida e acordos legais específicos.

Conclusão
A doação de sêmen abre portas à paternidade para muitas pessoas. Um protocolo de triagem completo, recomendado pela ANVISA e pela SBRA, é essencial para eliminar quase por completo o risco de transmissão de infecções ou doenças genéticas. Confie em clínicas credenciadas ou plataformas verificadas e ofereça à sua futura família o começo mais seguro possível.