A fertilização in vitro (FIV) é a técnica de referência em medicina da reprodução assistida quando métodos menos invasivos não conseguem resolver problemas de fertilidade. Este guia explica todas as fases, custos, probabilidades de sucesso, riscos e as tendências mais recentes, adaptado ao contexto de Portugal e redigido de forma clara e completa.
Custos e organização da FIV em Portugal
O preço de um ciclo completo de FIV em clínicas privadas em Portugal situa-se normalmente entre 3 500 € e 6 000 €, dependendo do protocolo, medicação e testes adicionais.
- Estimulação ovárica e monitorização: 800 €–1 500 € (ecografias e análises hormonais).
- Punção folicular e laboratório: 1 800 €–2 800 € (fecundação de ovócitos).
- Transferência embrionária e acompanhamento: 400 €–800 €.
- Criopreservação de embriões: ~400 € + 150 €–250 €/ano de conservação.
Financiamento público: O Serviço Nacional de Saúde (SNS) comparticipa até três ciclos de FIV para mulheres até 50 anos, mediante avaliação clínica e lista de espera, com critérios de elegibilidade que variam por região. Clínicas privadas costumam oferecer planos de pagamento faseados.
Passo a passo: como funciona a FIV
- Estimulação ovárica: 8–12 dias com gonadotrofinas, com ecografias e análises de sangue regulares.
- Disparo de ovulação: Administrar hCG ou agonista de GnRH cerca de 34–36 horas antes da punção.
- Punção folicular: Procedimento ambulatorial breve, sob sedação leve, geralmente indolor.
- Preparação do sémen: Seleção e concentração de espermatozoides móveis.
- Fecundação em laboratório: FIV convencional ou ICSI em caso de factor masculino severo.
- Cultivo embrionário: Incubação time-lapse até ao dia 3 (fase de 8 células) ou dia 5 (blastocisto).
- Transferência embrionária: Geralmente de um único embrião (SET) para reduzir riscos de gravidez gemelar.
- Suporte de fase lútea: Progesterona vaginal até à 10.ª–12.ª semana de gestação.
- Teste de gravidez: Dosagem de β-hCG no sangue 12–14 dias após a transferência; primeiro ultrassom cerca de 10 dias depois.
- Freeze-all e criotransferência (opcional): Vitrificação de todos os embriões em caso de risco de hiperestimulação ou endométrio não ideal, com transferência num ciclo posterior de substituição endometrial.
Probabilidades de sucesso
Segundo dados de registos nacionais e europeus (2023–2024), as taxas de nascimento vivo por ciclo são:
- < 35 anos: 45 – 55 %
- 35 – 37 anos: 35 – 45 %
- 38 – 40 anos: 25 – 35 %
- 41 – 42 anos: 15 – 25 %
- > 42 anos: < 10 %
A taxa acumulada de nascimento, incluindo criotransferências, pode ultrapassar os 60 % em mulheres com menos de 35 anos.
Quem não é candidato ideal?
- Reserva ovárica muito baixa (AMH < 0,5 ng/ml) ou idade materna avançada (> 45 anos).
- Doenças sistémicas graves sem controlo clínico (ex.: diabetes mal controlada, distúrbios tireoidianos).
- Distúrbios de coagulação complexos sem acompanhamento hematológico.
Nestes casos, recomenda-se otimização médica e estilo de vida antes de iniciar a FIV.
Dicas para maximizar o sucesso
- Índice de massa corporal (IMC) saudável, cessação do tabagismo e moderação no consumo de álcool; suplementação diária de ácido fólico e vitamina D.
- Exercício físico regular de intensidade moderada e técnicas de gestão de stress (yoga, meditação).
- Melhoria dos hábitos do parceiro masculino pelo menos 90 dias antes para otimizar a qualidade espermática.
- Considerar suplementos como CoQ10 e DHEA em “low responders”, sempre sob supervisão médica.
Últimos avanços e tendências
- Seleção embrionária com IA baseada em parâmetros morfocinéticos.
- Incubadoras time-lapse para monitorização contínua sem variações de temperatura.
- PGT-A/PGT-M para reduzir risco de aborto em casos de risco genético elevado.
- FIV “suave” e natural com carga hormonal reduzida.
- Social freezing de ovócitos antes dos 35 anos para preservar a fertilidade.
Riscos e efeitos secundários
- Hiperestimulação Ovárica (OHSS): Mais frequente em respondedoras elevadas; protocolo “freeze-all” minimiza o risco.
- Gravidez múltipla: SET reduz significativamente este risco.
- Complicações obstétricas: Ligeiro aumento de risco de pré-eclâmpsia e parto prematuro.
- Impacto emocional: Risco de ansiedade e stress elevado; aconselha-se apoio psicológico.
- Encargos financeiros adicionais: Medicamentos, testes genéticos e criotransferências.
Aspetos legais em Portugal
- Lei n.º 32/2006: regula as técnicas de reprodução medicamente assistida e protege o anonimato dos dadores.
- Donativos de gâmetas anónimos sem vínculo jurídico com o dador.
- Idade máxima de elegibilidade no SNS: até 50 anos (sujeito a critérios clínicos e lista de espera).
- Gestação de substituição (barriga de aluguer) não permitida.
Comparação de técnicas
- ICI / IVI – Inseminação domiciliária
Introdução de sémen junto ao cérvix com seringa ou copo; adequado para infertilidade ligeira ou sémen de dador; custo mínimo. - IUI – Inseminação intrauterina
Injeção de sémen lavado no útero por cateter; indicado em infertilidade masculina moderada ou problemas cervicais; custo intermédio. - FIV – Fertilização in Vitro
Estimulação de múltiplos ovócitos e fecundação em laboratório; técnica padrão em casos complexos; maiores taxas de sucesso e custo. - ICSI – Microinjeção intracitoplasmática
Injeção de um único espermatozoide no ovócito; solução de precisão em infertilidade masculina severa; custo elevado.
Fontes e diretrizes
Conclusão
A fertilização in vitro combina tecnologia avançada, protocolos personalizados e seleção assistida por IA para oferecer probabilidades de sucesso superiores a 60 % em mulheres até 35 anos. Informação rigorosa, apoio psicológico e uma equipa multidisciplinar são fundamentais para encarar o processo com confiança e maximizar as hipóteses de gravidez.