Para casais e pessoas que não conseguem conceber de forma natural nem através de técnicas de procriação medicamente assistida, a barriga de aluguer pode parecer a última opção. Em Portugal, porém, esta prática é proibida pela Lei n.º 32/2006 e pelo Código Civil: não há enquadramento legal para contratos de gestação por substituição. Neste artigo explicam-se os tipos de gestação por substituição, apresenta-se o quadro jurídico em Portugal, comparam-se as principais alternativas internacionais, analisam-se custos e riscos médicos e exploram-se outras vias para constituir família.
O que é a gestação por substituição?
A gestação por substituição, ou “barriga de aluguer”, consiste em uma mulher (a gestante) levar uma gravidez até ao termo e dar à luz um filho em nome dos pais de intenção, que adquirem então a sua parentalidade. Apoia casais heterossexuais, casais LGBTQ+ e pessoas solteiras que enfrentam impossibilidades médicas para engravidar.
Gestação tradicional vs gestacional
Gestação tradicional: O óvulo da gestante é fertilizado pelo esperma do pai de intenção ou de um dador. A gestante tem, assim, ligação genética à criança, o que acarreta complexidades legais e emocionais.
Gestação gestacional: Embriões criados em laboratório a partir de óvulos da mãe de intenção (ou de uma dadora) e esperma do pai de intenção são transferidos para o útero da gestante. A gestante não é geneticamente relacionada com a criança, o que simplifica muitos trâmites jurídicos.
Agências de intermediação e apoio
Embora em Portugal não haja agências legais para esta prática, noutros países agências reputadas oferecem:
- Seleção e matching de gestantes e pais de intenção
- Apoio jurídico e elaboração de contratos
- Coordenação de tratamentos médicos (FIV, acompanhamento)
- Acompanhamento psicológico e mediação de conflitos
Fornecedores éticos garantem transparência quanto a prazos, custos e riscos desde o início, protegendo todas as partes envolvidas.
Barriga de aluguer em Portugal: quadro jurídico
Em Portugal, a Lei n.º 32/2006, de 26 de julho, que regula a procriação medicamente assistida, proíbe expressamente qualquer forma de gestação por substituição. O Código Civil (artigo 1870.º) estabelece que a mãe da criança é a mulher que a gera e dá à luz. Qualquer contrato de gestação por substituição é nulo e sem efeito.
O objetivo destas disposições é proteger a dignidade humana e evitar a mercantilização da gravidez. Quem violar estas normas arrisca sanções civis e penais.
Custos e financiamento
Dado o veto legal em Portugal, muitos optam por procurar clínicas no estrangeiro. Os custos variam segundo o país, a agência e o pacote médico, mas incluem tipicamente:
- Procedimentos de FIV e exames médicos
- Honorários de advogados e custos judiciais
- Compensação e seguros da gestante (nos países onde é permitido)
- Taxas de agência (se aplicável)
- Despesas de viagem, alojamento e logística
Nos EUA, o custo total pode atingir 90 000–150 000 USD; na Ucrânia ou Rússia ronda os 40 000–70 000 USD; na Grécia pode situar-se em 50 000–80 000 EUR. O financiamento pode recorrer a empréstimos pessoais, créditos específicos ou crowdfunding.
Aspectos médicos e riscos
A gestação por substituição baseia-se geralmente em fertilização in vitro (FIV), onde os embriões são criados em laboratório e depois transferidos para o útero da gestante (Moragianni et al. 2021; Zhang et al. 2020).
Possíveis riscos:
- Síndrome de hiperestimulação ovárica (SHO), que pode ocorrer em até 5% dos ciclos de FIV ( Patient.info SHO).
- Efeitos secundários hormonais como alterações de humor, náuseas e retenção de líquidos ( MedlinePlus 2023).
- Aumento da probabilidade de gravidez gemelar ou múltipla, com maior risco de parto prematuro e pré-eclâmpsia ( OMS 2021).
- Sobrecarga psicológica devido a tratamentos hormonais e pressões sociais ( Burgio et al. 2022).
Um acompanhamento médico rigoroso — com ecografias regulares, análises laboratoriais e consultas especializadas — é essencial para detetar e gerir complicações a tempo.
Críticas e debate ético
Os críticos alertam para o risco de exploração de mulheres e mercantilização da gravidez. Questiona-se também o impacto psicológico a longo prazo em crianças e gestantes.
Os defensores argumentam que, com rigorosa seleção, compensação justa e contratos transparentes, a gestação por substituição pode ser uma via ética e solidária para concretizar o desejo de parentalidade. Apoio jurídico e psicológico robusto é fundamental para evitar abusos.
Alternativas internacionais: panorama e regulamentações
Muitos casais portugueses viajam para o estrangeiro em busca de legislação mais favorável ou valores mais acessíveis. Exemplos:
- Canadá: apenas surrogacia altruísta; reembolso de despesas comprovadas.
- Reino Unido: surrogacia altruísta permitida; pagamentos comerciais proibidos.
- Grécia: comercial permitida sob contratos regulados.
- Ucrânia: comercial disponível sob condições definidas; riscos políticos.
- Rússia: altruísta e comercial permitida; zonas cinzentas legais.
- Índia: comercial proibida para estrangeiros; regulamentos em evolução.
- México: varia por estado; algumas regiões permitem compensação.
- Austrália: comercial proibida; altruísta em alguns estados.
- Brasil: altruísta autorizada mediante aprovação judicial.
- África do Sul: contratos sujeitos a validação judicial prévia.
- Alemanha: proibida ao abrigo da Lei de Proteção do Embrião.
- Suíça: totalmente proibida.
- França: proibida; necessidade de recorrer ao estrangeiro e reconhecer no registo civil.
Outros caminhos para formar família
Entre as alternativas estão:
- Adoção: processo legal que integra a criança permanentemente na família.
- Foster care: acolhimento temporário ou alargado coordenado pelos serviços sociais.
- Doação de esperma ou óvulos: regulada pela Direção-Geral da Saúde; doadores e destinatários são selecionados.
Doação de esperma como alternativa: RattleStork
Cada vez mais casais em Portugal optam pela doação de esperma em vez da gestação por substituição. Em plataformas como a RattleStork, os utilizadores podem criar uma conta gratuita e escolher entre uma rede de dadores verificados.

Conclusão
Em Portugal, a barriga de aluguer é proibida, obrigando muitos a recorrer ao estrangeiro ou a explorar alternativas como a adoção e a doação de gametas. Seja qual for o caminho, é crucial contar com aconselhamento jurídico especializado, um orçamento realista e um acompanhamento médico completo para garantir o sucesso na jornada rumo à parentalidade.