Barriga de aluguer em Portugal: questões legais, custos e alternativas internacionais

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escrito por Philomena Marx9 de junho de 2025
Ilustração de uma mulher grávida segurando uma imagem de ecografia

Para casais e pessoas que não conseguem conceber de forma natural nem através de técnicas de procriação medicamente assistida, a barriga de aluguer pode parecer a última opção. Em Portugal, porém, esta prática é proibida pela Lei n.º 32/2006 e pelo Código Civil: não há enquadramento legal para contratos de gestação por substituição. Neste artigo explicam-se os tipos de gestação por substituição, apresenta-se o quadro jurídico em Portugal, comparam-se as principais alternativas internacionais, analisam-se custos e riscos médicos e exploram-se outras vias para constituir família.

O que é a gestação por substituição?

A gestação por substituição, ou “barriga de aluguer”, consiste em uma mulher (a gestante) levar uma gravidez até ao termo e dar à luz um filho em nome dos pais de intenção, que adquirem então a sua parentalidade. Apoia casais heterossexuais, casais LGBTQ+ e pessoas solteiras que enfrentam impossibilidades médicas para engravidar.

Gestação tradicional vs gestacional

Gestação tradicional: O óvulo da gestante é fertilizado pelo esperma do pai de intenção ou de um dador. A gestante tem, assim, ligação genética à criança, o que acarreta complexidades legais e emocionais.

Gestação gestacional: Embriões criados em laboratório a partir de óvulos da mãe de intenção (ou de uma dadora) e esperma do pai de intenção são transferidos para o útero da gestante. A gestante não é geneticamente relacionada com a criança, o que simplifica muitos trâmites jurídicos.

Agências de intermediação e apoio

Embora em Portugal não haja agências legais para esta prática, noutros países agências reputadas oferecem:

  • Seleção e matching de gestantes e pais de intenção
  • Apoio jurídico e elaboração de contratos
  • Coordenação de tratamentos médicos (FIV, acompanhamento)
  • Acompanhamento psicológico e mediação de conflitos

Fornecedores éticos garantem transparência quanto a prazos, custos e riscos desde o início, protegendo todas as partes envolvidas.

Barriga de aluguer em Portugal: quadro jurídico

Em Portugal, a Lei n.º 32/2006, de 26 de julho, que regula a procriação medicamente assistida, proíbe expressamente qualquer forma de gestação por substituição. O Código Civil (artigo 1870.º) estabelece que a mãe da criança é a mulher que a gera e dá à luz. Qualquer contrato de gestação por substituição é nulo e sem efeito.

O objetivo destas disposições é proteger a dignidade humana e evitar a mercantilização da gravidez. Quem violar estas normas arrisca sanções civis e penais.

Custos e financiamento

Dado o veto legal em Portugal, muitos optam por procurar clínicas no estrangeiro. Os custos variam segundo o país, a agência e o pacote médico, mas incluem tipicamente:

  • Procedimentos de FIV e exames médicos
  • Honorários de advogados e custos judiciais
  • Compensação e seguros da gestante (nos países onde é permitido)
  • Taxas de agência (se aplicável)
  • Despesas de viagem, alojamento e logística

Nos EUA, o custo total pode atingir 90 000–150 000 USD; na Ucrânia ou Rússia ronda os 40 000–70 000 USD; na Grécia pode situar-se em 50 000–80 000 EUR. O financiamento pode recorrer a empréstimos pessoais, créditos específicos ou crowdfunding.

Aspectos médicos e riscos

A gestação por substituição baseia-se geralmente em fertilização in vitro (FIV), onde os embriões são criados em laboratório e depois transferidos para o útero da gestante (Moragianni et al. 2021; Zhang et al. 2020).

Possíveis riscos:

  • Síndrome de hiperestimulação ovárica (SHO), que pode ocorrer em até 5% dos ciclos de FIV ( Patient.info SHO).
  • Efeitos secundários hormonais como alterações de humor, náuseas e retenção de líquidos ( MedlinePlus 2023).
  • Aumento da probabilidade de gravidez gemelar ou múltipla, com maior risco de parto prematuro e pré-eclâmpsia ( OMS 2021).
  • Sobrecarga psicológica devido a tratamentos hormonais e pressões sociais ( Burgio et al. 2022).

Um acompanhamento médico rigoroso — com ecografias regulares, análises laboratoriais e consultas especializadas — é essencial para detetar e gerir complicações a tempo.

Críticas e debate ético

Os críticos alertam para o risco de exploração de mulheres e mercantilização da gravidez. Questiona-se também o impacto psicológico a longo prazo em crianças e gestantes.

Os defensores argumentam que, com rigorosa seleção, compensação justa e contratos transparentes, a gestação por substituição pode ser uma via ética e solidária para concretizar o desejo de parentalidade. Apoio jurídico e psicológico robusto é fundamental para evitar abusos.

Alternativas internacionais: panorama e regulamentações

Muitos casais portugueses viajam para o estrangeiro em busca de legislação mais favorável ou valores mais acessíveis. Exemplos:

  • Canadá: apenas surrogacia altruísta; reembolso de despesas comprovadas.
  • Reino Unido: surrogacia altruísta permitida; pagamentos comerciais proibidos.
  • Grécia: comercial permitida sob contratos regulados.
  • Ucrânia: comercial disponível sob condições definidas; riscos políticos.
  • Rússia: altruísta e comercial permitida; zonas cinzentas legais.
  • Índia: comercial proibida para estrangeiros; regulamentos em evolução.
  • México: varia por estado; algumas regiões permitem compensação.
  • Austrália: comercial proibida; altruísta em alguns estados.
  • Brasil: altruísta autorizada mediante aprovação judicial.
  • África do Sul: contratos sujeitos a validação judicial prévia.
  • Alemanha: proibida ao abrigo da Lei de Proteção do Embrião.
  • Suíça: totalmente proibida.
  • França: proibida; necessidade de recorrer ao estrangeiro e reconhecer no registo civil.

Outros caminhos para formar família

Entre as alternativas estão:

  • Adoção: processo legal que integra a criança permanentemente na família.
  • Foster care: acolhimento temporário ou alargado coordenado pelos serviços sociais.
  • Doação de esperma ou óvulos: regulada pela Direção-Geral da Saúde; doadores e destinatários são selecionados.

Doação de esperma como alternativa: RattleStork

Cada vez mais casais em Portugal optam pela doação de esperma em vez da gestação por substituição. Em plataformas como a RattleStork, os utilizadores podem criar uma conta gratuita e escolher entre uma rede de dadores verificados.

Smartphone com o ecrã de seleção de dador na aplicação RattleStork
Figura: RattleStork – a app de doação de esperma

Conclusão

Em Portugal, a barriga de aluguer é proibida, obrigando muitos a recorrer ao estrangeiro ou a explorar alternativas como a adoção e a doação de gametas. Seja qual for o caminho, é crucial contar com aconselhamento jurídico especializado, um orçamento realista e um acompanhamento médico completo para garantir o sucesso na jornada rumo à parentalidade.

Perguntas Frequentes (FAQ)