Cada vez mais casais em Portugal recorrem à doação de óvulos porque a conceção natural não é possível. Desde a Lei n.º 32/2006 (alterada pela Lei n.º 13/2019), a doação é permitida e rigorosamente controlo pela direção‐geral de Saúde e pela Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (INFARMED). Este guia reúne tudo o que precisa de saber: do protocolo médico aos custos, taxas de sucesso e enquadramento jurídico, até às opções no estrangeiro que muitos casais ponderam.
Como funciona a doação de óvulos?
Primeiro, a dadora inicia um ciclo de estimulação ovárica com hormonas injetáveis para amadurecer vários óvulos. Sob sedação leve, o médico faz a punção folicular por ecografia transvaginal e colhe os óvulos. No laboratório, procede‐se à fecundação in vitro (FIV) ou à injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). Após alguns dias de cultivo, os embriões resultantes são transferidos para o útero da recetora. Genética e biologicamente, o filho deriva da dadora, mas ao abrigo da Lei n.º 32/2006 é considerada mãe a mulher que gera e dá à luz.
Enquadramento legal em Portugal
A doação de óvulos em Portugal encontra‐se regulada pela Lei n.º 32/2006, com as alterações da Lei n.º 13/2019. O INFARMED e a Direção‐Geral da Saúde (DGS) supervisionam as clínicas de medicina da reprodução humana assistida (RHA). As dadoras devem estar saudáveis, ter idade entre 18 e 34 anos e submeter‐se a rastreios infecciosos e genéticos. A doação é sempre anónima: o dador é identificável apenas pelo clinic quando o filho completar 18 anos, mas sem revelar dados pessoais. A dadora pode receber compensação até ao limite dos custos diretos (transporte, alojamento e taxas médicas, cerca de 1 000 €), mas não poderá vender os óvulos. A recetora e a dadora assinam consentimentos informados abrangendo riscos clínicos, anonimato e responsabilidades legais.
Doação de embriões – disponível mas menos frequente
A doação de embriões também é permitida em Portugal. Embriões excedentários criopreservados podem ser oferecidos a outros casais inscritos em clínica autorizada. Tanto dadores como recetores passam por avaliação médica e psicológica, assinando consentimentos específicos. As clínicas licenciadas garantem rastreio rigoroso e alojamento seguro dos embriões. Apesar de menos comum que a doação de óvulos, é uma alternativa para quem já tenha passado por ciclos de FIV e disponha de embriões congelados.
Direito de filiação: Quem é mãe?
Nos termos do artigo 1775.º do Código Civil, a mãe legal é quem dá à luz. Embora o embrião provenha geneticamente da dadora, a recetora é registada como mãe no registo de nascimento. Não é necessário qualquer processo de adoção subsequente. Em caso de litígio, o tribunal recorre à lei de RHA para confirmar que a recetora tem a maternidade negocial e o direito à filiação.
Gestação de substituição – proibida
A gestação de substituição está expressamente proibida em território português pela Lei n.º 32/2006 (art. 32.º). Qualquer contrato de barriga de aluguer não tem validade legal, e quem recorrer a clínicas noutros países deverá promover a adoção do bebé ao regressar a Portugal, visto que não é possível registar o nome dos progenitores pretendidos diretamente se o bebé nascer de barriga de aluguer.
Riscos médicos na doação de óvulos
Dadoras: Os efeitos secundários da estimulação ovárica incluem ligeira náusea, cefaleias e desconforto abdominal. Um caso grave de Síndrome de Hiperestimulação Ovárica (SHO) verifica‐se em cerca de 1% dos ciclos Braat et al. 2014. A punção folicular é minimamente invasiva, mas implica algum risco de hemorragia ou infeção. Recetoras: Um estudo sueco concluiu que as gravidezes resultantes de doação de óvulos apresentam risco duas vezes superior de pré‐eclâmpsia comparado com óvulos próprios Magnusson et al. 2021. Contudo, em clínicas autorizadas pela DGS, com vigilância ecográfica e análise sanguínea periódica, a maior parte dos ciclos corre sem complicações graves.
Taxas de sucesso atuais
O último relatório da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE) indica para 2019 uma taxa de gravidez clínica de 50,5% por transferência de óvulo fresco após doação de óvulos ESHRE 2023. Em Portugal, clínicas de referência como o Instituto Bernabeu Lisboa e o IVI Lisboa registam taxas de sucesso superiores a 60% quando aplicam tecnologias avançadas de laboratório e diagnóstico genético pré‐implantacional (PGT‐A) Embriogyn 2024. Cruciais para o êxito são a idade e estado de saúde da dadora, a qualidade embrionária e a experiência da equipa de embriologia.
Comparativa de custos para 2025
Em Portugal, um ciclo completo de doação de óvulos —incluindo medicação, vigilância e procedimento— varia entre 6 000€ e 9 000€. Muitos casais acrescentam despesas de deslocação se a dadora se encontrar noutro distrito, pelo que orçamentam um total entre 7 000€ e 10 000€ por ciclo. Alguns optam por viajar ao estrangeiro; abaixo, 13 destinos populares com valores em euros:
- Espanha – 7 000–11 000 €, doação anónima, taxas de sucesso até 60 %
- República Checa – 6 000–9 000 €, doação anónima, listas de espera curtas
- Grécia – 6 500–10 000 €, novas normas de traçabilidade desde 2023
- Portugal – 6 000–9 000 €, doação anónima obrigatória; criança pode acessar dados do dador aos 18 anos
- Bulgária – 5 500–8 500 €, doação anónima, até cinco filhos por dador
- Ucrânia – 5 000–8 000 €, regulamentos liberais mas risco político
- Estados Unidos – 15 000–25 000 USD (≈ 14 000–23 000 €), doação aberta, rastreio genético extensivo
- Canadá – 10 000–14 000 USD (≈ 9 300–13 000 €), sistema altruísta, sem compensação monetária
- Israel – 9 000–12 000 USD (≈ 8 300–11 000 €), doação anónima, exigências médicas rigorosas
- Japão – 8 000–12 000 USD (≈ 7 400–11 000 €), doação anónima, leis de confidencialidade limitadas
- Hungria – 6 500–9 500 USD (≈ 6 000–8 700 €), apenas dadores parentes, sem anonimato
- Geórgia – 5 000–8 000 USD (≈ 4 600–7 400 €), regulamentos permissivos, tempos de espera curtos
- França – 7 000–11 000 € (≈ 7 000–11 000 €), sem anonimato desde 2022
Além da taxa da clínica, acrescem custos de medicação, deslocações e alojamento. Para tratamentos fora de Portugal, muitos casais orçamentam entre 12 000 € e 18 000 € por ciclo, consoante o destino e a duração da estadia.
Perspetivas: Haverá reformas em Portugal?
Em 2025 não se preveem alterações substanciais à Lei n.º 32/2006. A DGS e o INFARMED continuam a atualizar as normas de boas práticas, mas o quadro legal mantém‐se estável. As clínicas autorizadas devem consultar regularmente os portais oficiais para eventuais circulares ou orientações técnicas adicionais.
Doação de esperma – alternativa rápida e legal
Se a infertilidade for de origem masculina, a doação de esperma em Portugal é legal e mais simples do que viajar para doação de óvulos. RattleStork liga futuros pais a dadores verificados, oferecendo mensagens seguras, acompanhamento de ciclos e contratos legais standard numa aplicação intuitiva. A app garante que ambas as partes completam os rastreios médicos e o aconselhamento obrigatório, tornando a doação de esperma uma opção acessível e fiável.

Conclusão
A doação de óvulos em Portugal é um procedimento legal e bem regulado, com boas taxas de sucesso em clínicas de referência. Os custos variam consoante a região e as tecnologias empregues, e alguns casais optam por tratamentos no estrangeiro para reduzir listas de espera ou custos. Quem considerar esta via deve escolher uma clínica autorizada pelo INFARMED, procurar aconselhamento legal especializado e planear cuidadosamente as finanças. Uma preparação rigorosa é essencial para maximizar as hipóteses de êxito.