Em Portugal, mais de dez mil pessoas por ano recorrem à doação de sémen para realizar o sonho de constituir família. Os métodos modernos de triagem reduzem significativamente os riscos para a saúde, mas existe sempre um risco residual. Este artigo explica quais vírus, bactérias, parasitas e perturbações genéticas podem ser transmitidos — e como uma triagem laboratorial em várias fases minimiza esses riscos.
Por que é essencial uma triagem em várias fases
Os patógenos passam frequentemente por um período janela: estão presentes no dador mas ainda não são detetáveis apenas por testes de anticorpos. Por isso, a Direção-Geral da Saúde (DGS) e a Sociedade Portuguesa de Fertilidade (SPF) recomendam combinar ensaios serológicos com PCR e manter as amostras em quarentena durante vários meses antes da sua liberação.
Vírus detetáveis no sémen
- VIH – ensaio ELISA e PCR, com quarentena da amostra.
- Hepatite B e C – testes de anticorpos e antigénios para prevenir danos hepáticos.
- Vírus herpes simple 1 e 2 – PCR; risco baixo em dadores assintomáticos.
- Citomegalovírus (CMV) – deteção IgG/IgM; crítico para recetores imunodeprimidos.
- Vírus Zika – RT-PCR e testes serológicos após viagens a áreas endémicas.
- HTLV I/II – raro, mas associado a leucemia.
- Vírus do papiloma humano (VPH) – PCR para tipos de alto risco (prevenção de cancro do colo do útero).
- Vírus do Nilo Ocidental e dengue – relevante em dadores de regiões tropicais ou subtropicais.
- SARS-CoV-2 – incluído em alguns painéis de triagem durante picos pandémicos.
Bactérias e parasitas no sémen
- Chlamydia trachomatis – muitas vezes assintomática; pode prejudicar a fertilidade.
- Neisseria gonorrhoeae – detetada por NAAT ou cultura por esfregaço.
- Treponema pallidum (sífilis) – serologia TPPA e VDRL obrigatória.
- Flora urogenital como E. coli e enterococos – pode causar inflamação.
- Trichomonas vaginalis – conhecida por reduzir a qualidade do sémen.
- Micoplasmas/Ureaplasmas – frequentemente silenciosos, mas inflamatórios.
Riscos genéticos
- Fibrose quística – análise do gene CFTR
- Doença de Tay-Sachs – deteção de mutações no HEXA
- Atrofia muscular espinhal – teste do gene SMN1
- Anemia falciforme e talassemia – painéis de hemoglobinopatias
- Síndrome do X frágil – análise de repetições no FMR1
- Microdeleções no cromossoma Y – associadas a oligospermia grave
- Doença de Gaucher – relevante em dadores de comunidade judaica asquenaze
- Painéis específicos de populações – ex. anemia de Fanconi, doença de Wilson
Que doenças podem ser excluídas?
A combinação de ensaios serológicos, PCR, painéis genéticos e quarentena de vários meses permite aos laboratórios excluir praticamente todos os vírus, bactérias, parasitas e perturbações hereditárias relevantes, reduzindo o risco residual a um nível excecionalmente baixo.
Processo de triagem
- História clínica – inquérito detalhado e aconselhamento.
- Testes laboratoriais – ensaios de anticorpos, antigénios e PCR.
- Painel genético – deteção de condições hereditárias comuns.
- Quarentena – amostras congeladas por ≥ 3 meses.
- Reteste – confirmação da ausência de novas infeções antes da liberação.
Doação privada vs. banco de sémen
Os bancos de sémen acreditados pela DGS asseguram máxima segurança com testes regulamentados, protocolos de quarentena e registos de dadores. A doação privada oferece experiência mais personalizada e pode ser mais económica, mas exige testes à medida e acordos legais específicos.

Conclusão
A doação de sémen abre portas à parentalidade para muitos. Um protocolo de triagem rigoroso, recomendado pela DGS e pela SPF, é essencial para eliminar quase completamente o risco de transmissão de infeções ou perturbações genéticas. Confie em clínicas acreditadas ou plataformas verificadas — e ofereça à sua futura família o início mais seguro possível.