Gestação de substituição em Portugal 2025: lei, riscos, estrangeiro e alternativas seguras

Foto do autor
Zappelphilipp Marx
Pessoa grávida segura uma ecografia com ambas as mãos

A gestação de substituição (GS) é, para algumas pessoas, vista como a última via para a parentalidade. Em Portugal, o quadro jurídico existe mas continua altamente condicionado e dependente de regulamentação prática. Neste guia explicamos os modelos de GS, o estado legal em Portugal, riscos clínicos e faixas de custos internacionais, bem como os pontos críticos quando o parto ocorre no estrangeiro. Terminamos com alternativas mais seguras centradas nos direitos da criança, transparência e boa documentação.

O que é a gestação de substituição

A GS é um acordo em que uma mulher (gestante de substituição) leva a termo uma gravidez para outra pessoa ou casal (pais intencionais) e, após o parto, o recém-nascido é confiado aos pais intencionais. Dependendo do modelo, a gestante pode ou não ter ligação genética ao bebé. Por ser um tema onde se cruzam medicina, direito e ética, todas as partes devem procurar aconselhamento independente clínico, psicológico e jurídico antes de decidir.

Modelos: tradicional vs. gestacional

Tradicional: a gestante utiliza os seus próprios ovócitos, tornando-se geneticamente mãe. Aumenta a complexidade emocional e jurídica e é muito limitada em diversos países.

Gestacional: o embrião é criado com gâmetas dos pais intencionais ou de dadores e transferido para o útero da gestante, que não tem ligação genética ao bebé. É o modelo mais comum onde a GS é regulada.

Enquadramento legal em Portugal

A GS foi introduzida na legislação portuguesa pela Lei n.º 25/2016, que alterou a Lei n.º 32/2006 (PMA). Em 2018, o Acórdão n.º 225/2018 do Tribunal Constitucional declarou a inconstitucionalidade de várias normas, impondo alterações (designadamente direitos da gestante e do nascido e regras de consentimento).

Posteriormente, o Parlamento aprovou alterações (v.g. Lei n.º 90/2021) mas, na prática, o acesso permanece dependente de regulamentação governamental e de procedimentos claros, o que tem limitado a operacionalização regular da GS em Portugal. Uma síntese acessível para o público é disponibilizada pela Associação Portuguesa de Fertilidade: a lei está em vigor, mas a versão atual aguarda regulamentação para aplicação prática ampla (APFertilidade).

Para registos civis, o portal do IRN descreve como proceder ao registo de nascimento de criança nascida em Portugal por GS, quando aplicável (IRN – Justiça). Em síntese: o quadro legal existe, mas o acesso efetivo continua restrito e sujeito a evolução normativa.

Nascimento no estrangeiro: documentos & regresso

Se pondera GS fora de Portugal, planeie antes: regras locais, eventuais ordens judiciais (pre-/post-birth order), emissão e conteúdo da certidão de nascimento, documentos de viagem e nacionalidade do bebé, e a via de reconhecimento da filiação em Portugal. Sem base jurídica sólida, passaporte e regresso podem atrasar significativamente. Bons pontos de partida (em inglês): GOV.UK – Surrogacy overseas e o guia da UE Your Europe – Surrogacy.

Aspetos médicos e riscos

O recurso à GS assenta quase sempre em fertilização in vitro (FIV). Riscos discutidos incluem efeitos adversos da estimulação hormonal (p.ex. OHSS), maior probabilidade de complicações em gravidezes múltiplas (prematuridade, pré-eclâmpsia), complicações obstétricas e carga psicossocial para a gestante e para os pais intencionais. É essencial aconselhamento médico e psicológico independentes e políticas prudentes de transferência embrionária. Informação para doentes (em inglês): HFEA – Surrogacy e guia clínico do NHS (NHS Manchester 2024).

Faixas de custo por país

Os custos variam por país, modelo (altruísta = reembolso documentado; comercial = compensação), número de ciclos FIV, atos judiciais, seguros e viagens/estadia. Internacionalmente referem-se intervalos de meia dezena de milhares até seis dígitos (USD/EUR). A tabela é indicativa e não constitui recomendação; normas e preços podem mudar.

País/regiãoSituação legal (resumo)Modelo de pagamentosIntervalo total estimado*
PortugalQuadro legal com decisões do TC; acesso depende de regulamentação prática
Reino UnidoAltruísta; Parental Order após o partoReembolso de despesasmeio cinco dígitos
CanadáAltruísta (federal); compensação proibidaReembolso reguladomeio cinco dígitos
EUAFortes diferenças estaduais; comercial frequenteCompensação + clínica/agência/advocaciaalto cinco dígitos–seis dígitos
GréciaAutorização judicial; reguladaCompensação permitidaalto cinco dígitos
GeórgiaRegras em evoluçãoPossível compensaçãomeio cinco dígitos
UcrâniaHistoricamente comercial; situação volátilCompensação usualalto quatro–meio cinco dígitos
MéxicoVariante por estadoCompensação por vezesampla variação
África do SulOrdem judicial pré-nascimentoAltruísta; despesas documentadasmeio cinco dígitos
Austrália/Nova ZelândiaPor estado/território; comercial proibidoReembolsobaixo–meio cinco dígitos
França/Espanha/ItáliaProibido; reconhecimento de casos externos complexo
Países Baixos/Bélgica/DinamarcaFortes restriçõesReembolso (quando aplicável)baixo–meio cinco dígitos
Polónia/TchéquiaZonas cinzentas; prática não uniformeMuito dependente do casoampla variação
IsraelRegulada; aprovação por comissãoCompensação/despesasalto cinco dígitos

*Valores indicativos; variam com a localização, número de ciclos, seguros, percurso legal e duração da estadia. Leituras úteis: APFertilidade, Lei 25/2016, Acórdão TC 225/2018, HFEA.

Estrangeiro: modelos & tendências

Há três famílias de modelos: proibição, altruísta (reembolso de despesas) e comercial (compensação). Em qualquer país, são críticos: contratos transparentes e supervisionados, padrões clínicos auditáveis, via clara para filiação e nacionalidade, e preparação prévia dos documentos de viagem do bebé. Em 2025 mantém-se um debate europeu intenso e mudanças pontuais (p. ex., afinações de acesso em países mediterrânicos). Consulte sempre fontes oficiais recentes antes de qualquer passo.

Alternativas para formar família

  • Adoção/família de acolhimento: vias públicas com forte proteção da criança e acompanhamento técnico.
  • Doação de sémen: para muitas pessoas é um percurso mais claro clínica e juridicamente do que a GS. Em Portugal, integra a PMA regulada pela Lei n.º 32/2006 (ver enquadramento legislativo no PGDL).
  • Outras técnicas de PMA (IUI/FIV/ICSI): sempre por indicação médica, com consentimento informado e aconselhamento jurídico independente antes de decidir.

Aviso importante & alternativa RattleStork

A RattleStork não oferece gestação de substituição e não é uma plataforma de intermediação, organização ou execução de GS. Distanciamo-nos expressamente desse tipo de serviços.

Como alternativa, ajudamos utilizadores em Portugal a iniciar de forma informada e segura a doação de sémen — com perfis verificados, guias práticos e referências a entidades de aconselhamento fidedignas — mantendo no centro a segurança clínica, a documentação e os direitos da criança.

Aplicação RattleStork num smartphone com um perfil de dador de sémen
RattleStork: alternativa responsável à GS — doação de sémen com informação clara e foco na criança.

Conclusão

Portugal dispõe de base legal para GS, mas decisões do Tribunal Constitucional e a necessidade de regulamentação mantêm o acesso limitado e em evolução. Os modelos no estrangeiro são heterogéneos e mutáveis; sem planeamento jurídico sólido, o reconhecimento de filiação, a nacionalidade e o regresso podem atrasar. Considere vias de menor risco — como a doação de sémen ou a adoção — e obtenha desde o início aconselhamento médico e jurídico independentes.

Aviso legal: O conteúdo da RattleStork é fornecido apenas para fins informativos e educativos gerais. Não constitui aconselhamento médico, jurídico ou profissional; nenhum resultado específico é garantido. A utilização destas informações é por sua conta e risco. Consulte o nosso aviso legal completo.

Frequently Asked Questions (FAQ)

Existe base legal na Lei n.º 32/2006 alterada pela Lei n.º 25/2016, mas decisões do TC exigiram correções e a operacionalização depende de regulamentação prática atualizada.

O acesso efetivo é limitado e sujeito a regras específicas; a aplicação generalizada aguarda regulamentação e procedimentos claros.

Regra geral, prevalece a mulher que dá à luz; as vias de filiação dos pais intencionais dependem do regime aplicável e decisão judicial, quando exigida.

Os modelos e limites de compensação variam por país; em Portugal, aplicam-se regras estritas e a intervenção de entidades competentes, não sendo um mercado livre.

O reconhecimento da filiação e a nacionalidade não são automáticos; prepare certidões, decisões judiciais e documentos de viagem antes do parto para evitar atrasos no regresso.

Efeitos da estimulação hormonal (OHSS), riscos acrescidos em gravidezes múltiplas, complicações obstétricas e impacto psicossocial nas partes envolvidas.

Muitas vezes 12–24 meses incluindo triagem, passos legais, tratamento, gravidez e formalidades pós-parto; a variação por país é grande.

Quando aplicável, o IRN disponibiliza canais para registo; leve a declaração do hospital e demais documentos exigidos conforme o caso e a lei em vigor.

Não. A RattleStork não oferece, intermedeia nem organiza GS e aponta alternativas com menor risco, como a doação de sémen.

Doação de sémen com documentação e consentimento informados ou adoção, sempre com aconselhamento médico e jurídico independentes no início.