Fertilização In Vitro (FIV) – Guia Completo, Custos e Taxas de Sucesso

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escrito por Zappelphilipp Marx27 de maio de 2025
Embriologista a observar o cultivo de embriões num laboratório de FIV através de um microscópio

A fertilização in vitro (FIV) é a técnica de referência em medicina da reprodução assistida quando métodos menos invasivos não conseguem resolver problemas de fertilidade. Este guia explica todas as fases, custos, probabilidades de sucesso, riscos e as tendências mais recentes, adaptado ao contexto de Portugal e redigido de forma clara e completa.

Custos e organização da FIV em Portugal

O preço de um ciclo completo de FIV em clínicas privadas em Portugal situa-se normalmente entre 3 500 € e 6 000 €, dependendo do protocolo, medicação e testes adicionais.

  • Estimulação ovárica e monitorização: 800 €–1 500 € (ecografias e análises hormonais).
  • Punção folicular e laboratório: 1 800 €–2 800 € (fecundação de ovócitos).
  • Transferência embrionária e acompanhamento: 400 €–800 €.
  • Criopreservação de embriões: ~400 € + 150 €–250 €/ano de conservação.

Financiamento público: O Serviço Nacional de Saúde (SNS) comparticipa até três ciclos de FIV para mulheres até 50 anos, mediante avaliação clínica e lista de espera, com critérios de elegibilidade que variam por região. Clínicas privadas costumam oferecer planos de pagamento faseados.

Passo a passo: como funciona a FIV

  1. Estimulação ovárica: 8–12 dias com gonadotrofinas, com ecografias e análises de sangue regulares.
  2. Disparo de ovulação: Administrar hCG ou agonista de GnRH cerca de 34–36 horas antes da punção.
  3. Punção folicular: Procedimento ambulatorial breve, sob sedação leve, geralmente indolor.
  4. Preparação do sémen: Seleção e concentração de espermatozoides móveis.
  5. Fecundação em laboratório: FIV convencional ou ICSI em caso de factor masculino severo.
  6. Cultivo embrionário: Incubação time-lapse até ao dia 3 (fase de 8 células) ou dia 5 (blastocisto).
  7. Transferência embrionária: Geralmente de um único embrião (SET) para reduzir riscos de gravidez gemelar.
  8. Suporte de fase lútea: Progesterona vaginal até à 10.ª–12.ª semana de gestação.
  9. Teste de gravidez: Dosagem de β-hCG no sangue 12–14 dias após a transferência; primeiro ultrassom cerca de 10 dias depois.
  10. Freeze-all e criotransferência (opcional): Vitrificação de todos os embriões em caso de risco de hiperestimulação ou endométrio não ideal, com transferência num ciclo posterior de substituição endometrial.

Probabilidades de sucesso

Segundo dados de registos nacionais e europeus (2023–2024), as taxas de nascimento vivo por ciclo são:

  • < 35 anos: 45 – 55 %
  • 35 – 37 anos: 35 – 45 %
  • 38 – 40 anos: 25 – 35 %
  • 41 – 42 anos: 15 – 25 %
  • > 42 anos: < 10 %

A taxa acumulada de nascimento, incluindo criotransferências, pode ultrapassar os 60 % em mulheres com menos de 35 anos.

Quem não é candidato ideal?

  • Reserva ovárica muito baixa (AMH < 0,5 ng/ml) ou idade materna avançada (> 45 anos).
  • Doenças sistémicas graves sem controlo clínico (ex.: diabetes mal controlada, distúrbios tireoidianos).
  • Distúrbios de coagulação complexos sem acompanhamento hematológico.

Nestes casos, recomenda-se otimização médica e estilo de vida antes de iniciar a FIV.

Dicas para maximizar o sucesso

  • Índice de massa corporal (IMC) saudável, cessação do tabagismo e moderação no consumo de álcool; suplementação diária de ácido fólico e vitamina D.
  • Exercício físico regular de intensidade moderada e técnicas de gestão de stress (yoga, meditação).
  • Melhoria dos hábitos do parceiro masculino pelo menos 90 dias antes para otimizar a qualidade espermática.
  • Considerar suplementos como CoQ10 e DHEA em “low responders”, sempre sob supervisão médica.

Últimos avanços e tendências

  • Seleção embrionária com IA baseada em parâmetros morfocinéticos.
  • Incubadoras time-lapse para monitorização contínua sem variações de temperatura.
  • PGT-A/PGT-M para reduzir risco de aborto em casos de risco genético elevado.
  • FIV “suave” e natural com carga hormonal reduzida.
  • Social freezing de ovócitos antes dos 35 anos para preservar a fertilidade.

Riscos e efeitos secundários

  • Hiperestimulação Ovárica (OHSS): Mais frequente em respondedoras elevadas; protocolo “freeze-all” minimiza o risco.
  • Gravidez múltipla: SET reduz significativamente este risco.
  • Complicações obstétricas: Ligeiro aumento de risco de pré-eclâmpsia e parto prematuro.
  • Impacto emocional: Risco de ansiedade e stress elevado; aconselha-se apoio psicológico.
  • Encargos financeiros adicionais: Medicamentos, testes genéticos e criotransferências.

Aspetos legais em Portugal

  • Lei n.º 32/2006: regula as técnicas de reprodução medicamente assistida e protege o anonimato dos dadores.
  • Donativos de gâmetas anónimos sem vínculo jurídico com o dador.
  • Idade máxima de elegibilidade no SNS: até 50 anos (sujeito a critérios clínicos e lista de espera).
  • Gestação de substituição (barriga de aluguer) não permitida.

Comparação de técnicas

  • ICI / IVI – Inseminação domiciliária
    Introdução de sémen junto ao cérvix com seringa ou copo; adequado para infertilidade ligeira ou sémen de dador; custo mínimo.
  • IUI – Inseminação intrauterina
    Injeção de sémen lavado no útero por cateter; indicado em infertilidade masculina moderada ou problemas cervicais; custo intermédio.
  • FIV – Fertilização in Vitro
    Estimulação de múltiplos ovócitos e fecundação em laboratório; técnica padrão em casos complexos; maiores taxas de sucesso e custo.
  • ICSI – Microinjeção intracitoplasmática
    Injeção de um único espermatozoide no ovócito; solução de precisão em infertilidade masculina severa; custo elevado.

Fontes e diretrizes

Conclusão

A fertilização in vitro combina tecnologia avançada, protocolos personalizados e seleção assistida por IA para oferecer probabilidades de sucesso superiores a 60 % em mulheres até 35 anos. Informação rigorosa, apoio psicológico e uma equipa multidisciplinar são fundamentais para encarar o processo com confiança e maximizar as hipóteses de gravidez.

Perguntas Frequentes (FAQ)

Em Portugal, as taxas de nascimento vivo por ciclo variam entre 45–55 % (< 35 anos), 35–45 % (35–37 anos), 25–35 % (38–40 anos), 15–25 % (41–42 anos) e < 10 % (> 42 anos). Com criotransferências, a taxa acumulada ultrapassa os 60 % em mulheres mais jovens.

Cerca de 60 % dos casais obtêm gravidez após três ciclos completos (incluindo criotransferências). Após seis ciclos, a taxa acumulada ultrapassa os 80 % em mulheres com menos de 35 anos.

Em clínica privada: 3 500 €–6 000 € por ciclo. O SNS comparticipa até três ciclos gratuitos para mulheres até 50 anos, conforme critérios clínicos e disponibilidade regional.

Realiza-se sob sedação ou anestesia ligeira e é indolor. Após o procedimento, podem surgir ligeiras cólicas semelhantes à menstruação, tratáveis com analgésicos leves.

Protocolo antagonista, dose inicial baixa de gonadotrofinas, disparo com GnRH em vez de hCG e estratégia “freeze-all” reduzem o risco para < 1 %.

O SET reduz complicações associadas a gestações múltiplas (parto prematuro, pré-eclâmpsia), mantendo altas taxas de sucesso acumulado com criotransferências posteriores.

Recomendado em mulheres ≥ 35 anos ou com abortos recorrentes, para reduzir risco de falha de implantação. Exige indicação médica e autorização ética.

Estimulação com doses muito reduzidas ou sem hormonas. Vantagens: menor custo e quase ausência de OHSS; desvantagens: menos ovócitos e necessidade de mais ciclos.

Se os níveis de estradiol estiverem elevados, houver risco de OHSS, endométrio subótimo ou teste de COVID positivo. Todos os embriões são vitrificados e a transferência ocorre em ciclo posterior.

Estudos preliminares indicam um aumento de 5–10 % nas taxas de implantação, embora ainda não seja prática clínica padrão.

IMC entre 20–25, cessar tabaco 3 meses antes, ≤5 unidades de álcool/semana, níveis ótimos de vitamina D e ácido fólico, exercício moderado e controlo do stress.

Podem melhorar ligeiramente a resposta ovárica em “low responders”. Evidência moderada; consultar especialista.

Endometriose ligeira ou moderada pouco reduz taxas de implantação. Em casos graves, pode recomendar-se cirurgia ou down-regulação com GnRH antes da FIV.

Muitos centros atendem até IMC 35 kg/m². Com IMC > 30, as taxas de nascidos vivos diminuem e complicações aumentam; perder 5–10 % de peso pode melhorar resultados.

Estimulação 8–12 dias → punção no dia 0 → transferência no dia 3–5. De início de estimulação a teste de gravidez: cerca de 4 semanas.

Serviços de psicologia em clínicas de fertilidade, associações de doentes e fóruns online como a comunidade RattleStork.

Recomendado em casos de histórico familiar de doenças genéticas, abortos recorrentes, OAT grave ou incompatibilidade de grupos sanguíneos.

Em Portugal, a doação é anónima e regulada, mas alguns casais procuram protocolos ou disponibilidade alargada noutros países.

Recomenda-se antes dos 35 anos; até aos 38 anos mantém taxas de sucesso similares à idade de congelamento.

ICSI indicado se < 1 milhão de espermatozoides progressivos/ml, teratozoospermia severa, falha prévia de fecundação ou uso de material TESE.