ICSI – Microinjeção intracitoplasmática de espermatozoides na infertilidade masculina

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escrito por Zappelphilipp Marx27 de maio de 2025
Microinjeção: embriologista realiza ICSI – espermatozoide no óvulo

A injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) é hoje a técnica de micromanipulação mais importante quando uma fertilização in vitro (FIV) clássica falha devido a infertilidade masculina severa. Este guia cobre indicações, procedimento, custos, taxas de sucesso, riscos e enquadramento legal em Portugal.

O que é exatamente a ICSI e quando se utiliza?

Na ICSI injeta-se um espermatozoide diretamente no citoplasma de um óvulo maduro por micropipeta ao microscópio. Está indicada em síndrome OAT (oligo-astenoteratozoospermia), azoospermia após TESE/micro-TESE, elevada fragmentação de ADN, anticorpos anti-espermatozoides e após falhas de fertilização em ciclos anteriores de FIV. A análise genética (deleções AZF e mutações CFTR) é obrigatória em casos graves, pois estes defeitos podem ser transmitidos à descendência.

Métodos de fertilização: comparação rápida

  • ICI / IVI – Inseminação intracervical (em casa)
    O sémen é colocado com seringa ou copo junto ao colo do útero. Indicado em problemas leves de fertilidade ou com sémen de dador; custos baixos e máxima privacidade.
  • IUI – Inseminação intrauterina
    Espermatozoides preparados são depositados na cavidade uterina por cateter. Adequado para fatores masculinos moderados, obstruções cervicais ou infertilidade inexplicada; procedimento simples, custo médio.
  • IVF – Fertilização in vitro
    Vários óvulos estimulados são incubados com espermatozoides em laboratório. Padrão para obstrução tubária, endometriose ou IUI falhada; maiores taxas de sucesso, orçamento mais elevado.
  • ICSI – Microinjeção de espermatozoides
    Um único espermatozoide é injetado cirurgicamente no óvulo. Solução de precisão para infertilidade masculina severa ou material de TESE; é a técnica mais cara, mas oferece maior chance em casos extremos.

Quanto custa uma ICSI?

A ICSI realiza-se no âmbito de um ciclo de FIV. Em Portugal, o custo total por ciclo varia entre 3 500 € e 5 500 €, incluindo medicação, punção, laboratório de FIV-ICSI e transferência. Normalmente não há suplemento extra para ICSI, estando já integrado no preço do ciclo.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) financia gratuitamente até 3 ciclos de FIV para mulheres até 40 anos sem filhos prévios, e até 6 ciclos de inseminação com dador para mulheres solteiras ou casais de mulheres.

Custos adicionais aproximados:
Biópsia testicular (TESE): 700–2 000 €;
Testes genéticos: 300–600 €;
Teste genético pré-implantacional (PGT-A): 1 500–3 500 €;
Criopreservação de embriões: 300–500 €/ano.

Procedimento passo a passo

  1. Diagnóstico e aconselhamento: espermograma, perfil hormonal, ecografia, testes de infeção e estudos genéticos.
  2. Estimulação ovárica: 8–12 dias de gonadotrofinas, monitorização frequente e dose reduzida em caso de SOP.
  3. Punção e recolha de espermatozoides: 34–36 h após trigger de hCG/GnRH; TESE/micro-TESE em azoospermia.
  4. Seleção de espermatozoides: gradientes de densidade, IMSI ou PICSI para minimizar danos.
  5. Microinjeção: 1 espermatozoide por óvulo maduro (fase MII) com micromanipulador.
  6. Cultura embrionária e time-lapse: observação contínua até ao dia 5 (blastocisto). Opcional PGT-A/PGT-M.
  7. Transferência ou congelamento: transferência de um embrião; “freeze-all” e posterior transferência criogénica.
  8. Apoio à fase lútea: progesterona até à 10.ª–12.ª semana.
  9. β-hCG e ecografia: teste de gravidez 12–14 dias depois e primeiro batimento cardíaco por volta da semana 6–7.

Taxas de sucesso – números realistas

A taxa de fecundação após ICSI situa-se nos 70–80 %. A taxa de gravidez clínico por transferência depende da idade da mulher:

  • < 35 anos: 45–55 %
  • 35–37 anos: 35–45 %
  • 38–40 anos: 25–30 %
  • > 40 anos: < 15 %

Com ciclos de vitrificação, a taxa “Baby Take-Home” pode ultrapassar os 60 % em mulheres com menos de 35 anos.

Como aumentar as suas probabilidades

Estilo de vida: manter peso saudável, parar de fumar, álcool < 5 unidades/semana, ácido fólico diário + vitamina D, exercício moderado.

Fator masculino: dieta rica em antioxidantes (vit. C/E, CoQ10, ómega-3) e 3 meses de abstinência de nicotina/anabolizantes para reduzir a fragmentação do ADN.

Opções médicas:DHEA e CoQ10 podem apoiar baixas respondedoras (evidência limitada; consultar médico).

Riscos e efeitos secundários

  • OHSS: raro (< 1 %) com protocolos antagonistas + freeze-all.
  • Múltiplos: depende do número de embriões transferidos; transferência única mantém taxa < 5 %.
  • Efeitos epigenéticos: ligeiro aumento do risco de distúrbios de impronta (< 1 %).
  • Stress psicológico: ciclos e custos podem causar ansiedade; é recomendado apoio psicosocial.

Enquadramento Legal (Portugal)

  • Lei n.º 17/2016, de 14 de março: estabelece o regime jurídico das técnicas de procriação medicamente assistida.
  • Decreto-Lei n.º 128/2015, de 5 de julho: normas de qualidade e segurança na doação e utilização de células e tecidos humanos.
  • Portaria n.º 1277/2003, de 10 de outubro: requisitos para autorização de unidades de PMA.
  • A doação de gâmetas é altruísta e anónima; a gestação de substituição não está contemplada na legislação atual.

Fontes científicas e guias

Conclusão

A ICSI é hoje a técnica mais precisa para ultrapassar a infertilidade masculina severa. Com laboratórios de alta qualidade e transferência de um único embrião, alcança até 55 % de sucesso por transferência em mulheres jovens. Conhecer custos, riscos e obter aconselhamento genético é fundamental para tirar o máximo partido desta terapia de alta tecnologia.

Perguntas Frequentes (FAQ)

Na FIV, óvulos e espermatozoides são colocados juntos e a fertilização ocorre naturalmente. Na ICSI, injeta-se um espermatozoide diretamente no óvulo, contornando problemas de motilidade ou morfologia.

OAT severo, azoospermia com TESE/micro-TESE, alta fragmentação de ADN, anticorpos antiespermatozoides, falhas após FIV ou menos de 1 M/ml de espermatozoides normais.

3 500–5 500 € por ciclo de FIV-ICSI (sem suplemento extra). SNS financia até 3 ciclos de FIV e 6 de inseminação de dador para mulheres solteiras/pares femininos.

Fecundação 70–80 %. Gravidez por transferência: < 35 anos 45–55 %, 35–37 anos 35–45 %, 38–40 anos 25–30 %, > 40 anos < 15 %. Com vitrificação pode ultrapassar 60 %.

10–30 % falham por erros de ativação, imaturidade ou defeitos ooplasmáticos.

Não, se se obtêm espermatozoides viáveis, as taxas são semelhantes às do ejaculado em laboratórios experientes.

Evidência mista; em teratozoospermia severa ou alta fragmentação podem reduzir abortos, mas sem garantir aumento de taxa de sucesso.

Recomendado ≥ 35 anos, abortos recorrentes ou falhas múltiplas; reduz abortos e tempo até gravidez. No SNS depende de parecer ético.

Depende do número de embriões transferidos, não da técnica. Transferência única mantém gemelaridade < 5 %.

Sim, OHSS depende da estimulação ovárica. Protocolos antagonistas, trigger de GnRH e freeze-all minimizam risco.

Pequeno aumento de risco de distúrbios de impronta (< 1 %). Risco absoluto muito baixo.

Estimulação 8–12 dias → punção dia 0 → transferência dia 5. Desde início até teste de gravidez, cerca de 4 semanas.

2–4 dias de abstinência otimizam volume e motilidade.

IMC 20–30, evitar tabaco, álcool < 5 unidades/semana, dieta rica em ómega-3, ácido fólico (400 µg), vitamina D, exercício moderado e gestão de stress.

Suplementação de 3 meses (CoQ10 300 mg/d, L-Carnitina 2 g/d) pode melhorar motilidade. Evidência moderada; consultar médico.

Vitrificação moderna oferece taxas comparáveis e menor risco de OHSS.

Estimulação suave (150–225 IU/d) + transferência única para reduzir OHSS, risco de gémeos e custos; indicada em boas reservas ováricas.

Se se obtêm espermatozoides, as taxas de fecundação chegam a 60–70 % e as de gravidez são semelhantes às do ejaculado em laboratórios experientes.

Recomendados em fatores masculinos severos: deleções AZF, painel CFTR, cariótipo. Resultados orientam aconselhamento genético.

Psicólogos de fertilidade, grupos online (comunidade RattleStork) e associações de apoio ao doente.