A doação de ovócitos é, para muitas pessoas, a via mais realista para ter um filho. Em Portugal, o procedimento é legal e regulado. Este guia explica, de forma neutra, o processo, o quadro legal português, saúde & riscos, taxas de sucesso, custos e documentos, além de pontos éticos e do debate atual. No fim, indicamos alternativas legais e como a RattleStork pode ajudar noutros contextos.
Como funciona & fundamentos
As doadoras são estimuladas hormonalmente; os ovócitos maduros são colhidos e fecundados em laboratório com sémen (IVF/ICSI). Dependendo da clínica, transferem-se 1–2 embriões e criopreservam-se excedentes. A recetora leva a gravidez; geneticamente, a criança tem origem na doadora.
Enquadramento legal em Portugal
Em Portugal, a doação de ovócitos está prevista e regulada pela Lei n.º 32/2006 (PMA) e legislação subsequente. O CNPMA supervisiona os centros e impõe o registo obrigatório de dadoras, beneficiárias e crianças nascidas de dádiva de terceiros. Após o Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 225/2018 e o novo regime de confidencialidade (2019), não existe anonimato absoluto: ao atingir a maioridade, a pessoa nascida pode aceder à identidade civil da dadora em termos legalmente previstos.
Filiação
Em regra, a maternidade resulta do parto (princípio mater semper certa est) segundo o Código Civil português; a doadora não é considerada progenitora. O consentimento informado e os registos oficiais estruturam a filiação no contexto da PMA.
Saúde & riscos
Doadoras: efeitos adversos da estimulação são, geralmente, ligeiros. A síndrome de hiperestimulação ovárica (OHSS) é rara e mitigada com protocolos modernos (p. ex., trigger com GnRH, “freeze-all”).
Recetoras: existe risco acrescido de doença hipertensiva na gravidez (sobretudo pré-eclâmpsia); são padrão a avaliação prévia, estratificação de risco, eventual profilaxia com AAS e vigilância estreita.
Rastreio de doadoras & matching
Centros sérios avaliam história clínica, idade/AMH, infeções (HIV, HBV/HCV, sífilis), grupo/Rh e, muitas vezes, painéis genéticos. O matching pode ser fenotípico, por grupo sanguíneo ou por preferências clínicas. Na UE, o Single European Code assegura a rastreabilidade de tecidos e células.
Taxas de sucesso
Registos reportam, frequentemente, 45–55% de gravidez clínica por transferência com ovócitos de dadora. Variam com idade/saúde da doadora, qualidade laboratorial/embrionária, número de transferências e fatores uterinos. Ver CDC e relatório ART da ESHRE.
Comparação entre países (2025) – regras, pacotes, preços
Valores indicativos; pacotes, vias legais e prazos variam entre clínicas.
| País | Modelo de doação | Lei/transparência | Pacote habitual | Custos típicos* (sem viagem) | Espera | Nota |
|---|---|---|---|---|---|---|
| Espanha | muito anónima | registo, SEC | IVF/ICSI + 1–2 transferências | 7 000–11 000 € | curta | grande oferta de doadoras |
| Chéquia | muito anónima | depende da clínica | IVF/ICSI + 1 transferência | 6 000–9 000 € | curta | prazos curtos |
| Grécia | maiorit. anónima | regras judic./admin. | IVF/ICSI + criopreservação | 6 500–10 000 € | média | fechar documentos cedo |
| Portugal | aberta | CNPMA, registo; acesso aos 18 | IVF/ICSI + 1–2 transferências | 7 000–11 000 € | média | direito a conhecer origens |
| França | aberta | sem anonimato | IVF/ICSI + registo | 7 000–11 000 € | média | alta transparência |
| Bulgária | muito anónima | limites por doadora | IVF/ICSI | 5 500–8 500 € | curta | ver normas locais |
| Geórgia | liberal | normas em mudança | IVF/ICSI + contratos | 5 000–8 000 € | curta | atenção à segurança jurídica |
| Ucrânia | liberal | contexto volátil | IVF/ICSI | 5 000–8 000 € | média | risco político |
| Israel | regulada | autorização necessária | IVF/ICSI + comissão | 9 000–12 000 € | média | requisitos rigorosos |
| EUA | aberta | varia por Estado | IVF/ICSI + testes extensos | ≥ 15 000 € | curta | custos mais elevados |
| Canadá | altruísta | proibida remuneração | IVF/ICSI + despesas | 10 000–14 000 € | média | comprovativos necessários |
| Japão | muito anónima | acesso limitado | IVF/ICSI | 8 000–12 000 € | média | prática varia |
*Pacotes normalmente não incluem fármacos, viagem/estadia, genética opcional (p. ex., PGT-A), taxas de criopreservação e transferências subsequentes. Na UE aplica-se a rastreabilidade pelo Single European Code.
Orçamentar o total com realismo
Para a Europa, um orçamento global de ~12 000–20 000 € é razoável. Extras: fármacos, viagem/estadia, add-ons laboratoriais (assisted hatching, time-lapse), PGT-A (opcional), armazenamento criogénico, transferências posteriores e traduções certificadas. Na América do Norte, o total costuma ser substancialmente superior. As probabilidades acumuladas sobem com várias transferências.
Documentos & regresso após tratamento no estrangeiro
Essenciais: dossiê clínico completo (estimulação, laboratório, embriologia), consentimentos, informação da doadora segundo a lei do país (aberta/anónima, registos), relatórios de transferência, análises relevantes, calendário vacinal e traduções certificadas. Verifica antecipadamente requisitos do país de destino e de Portugal; registos claros agilizam respostas de entidades portuguesas.
Ética & direitos da criança
Centrais: informação sem pressão, proteção da doadora (médica/social), transparência sobre a origem genética e documentação a longo prazo. Muitos países migraram do anonimato para modelos abertos com direitos de acesso aos 18 anos. Dar a conhecer as origens pode beneficiar a construção da identidade na idade adulta.
Debate de reforma (2025)
O regime português evoluiu com o TC n.º 225/2018 e diplomas de 2019 sobre confidencialidade. O Relatório CNPMA 2024 mostra atividade estável na doação de ovócitos e reforça a importância do registo e do acesso às origens.
Alternativas legais em Portugal
Doação de sémen: legal e integrada no SNS/privado; registos obrigatórios e direitos de acesso às origens aos 18 anos.
Doação de embriões: regulada, mas com oferta limitada; requer acompanhamento médico-legal próximo.
Preservação da fertilidade (social freezing): criopreservação de ovócitos próprios é permitida; doação destes a terceiros obedece ao regime da PMA e às decisões sobre confidencialidade/acesso às origens.
Nota importante & alternativa com a RattleStork
A RattleStork não oferece nem intermedeia doação de ovócitos. Como alternativa segura e legal, apoiamos o teu arranque na doação de sémen em Portugal — com perfis verificados, guias práticos e encaminhamento para serviços credenciados. Foco na segurança clínica, na documentação e nos direitos da criança.

Checklist da clínica (curta & prática)
- Legalidade: modelo de doação (aberta/anónima), registos CNPMA, acesso às origens aos 18.
- Rastreio da doadora: infeções, painéis genéticos, AMH/idade, apoio psicológico.
- Qualidade laboratorial: equipa de embriologia, taxas de sucesso auditáveis, protocolos de blastocisto/crio.
- Segurança: prevenção de OHSS, redução de múltiplos (single-embryo transfer), prevenção de pré-eclâmpsia.
- Contratos & documentação: consentimentos, traduções, cópias certificadas, dossiê completo.
- Orçamento & logística: fármacos, viagem, transferências subsequentes, extras; calendário realista.
Quando consultar médica/médico
Sempre antes de tratamento: avaliação de riscos e medicação, comorbilidades, riscos da gravidez, eventual AAS e plano de vigilância; garante a continuidade de cuidados em Portugal.
Conclusão
Em Portugal, a doação de ovócitos é possível e regulada. Segurança jurídica, qualidade do laboratório, acompanhamento médico rigoroso e orçamento realista ao longo de vários ciclos são determinantes. A maternidade legal decorre do parto; a pessoa nascida pode aceder às origens ao atingir a maioridade nos termos da lei. Planeamento estruturado e documentação completa aumentam a segurança e as hipóteses de sucesso.
Leitura útil (curada): Lei n.º 32/2006 (PMA) • CNPMA – Doação de ovócitos • TC n.º 225/2018 (acesso às origens) • Registo obrigatório (CNPMA) • CDC ART • ESHRE ART Report • Single European Code.

